Igreja acabou de vez com o Limbo

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Qual é o destino das crianças que morrem por baptizar? Ao longo dos séculos muitas foram as respostas apresentadas pelos teólogos católicos, a mais famosa das quais a do Limbo, defendida desde Santo Agostinho, no século V. Segundo esta teoria, em virtude do pecado original, as crianças que morrem sem o baptismo estariam privadas da plena felicidade dos eleitos pela visão de Deus, face a face, mas gozando de uma felicidade natural.

A Igreja Católica quer agora acabar de vez com o conceito de Limbo - uma espécie de lugar de fronteira onde as crianças "não usufruem da presença de Deus, mas também não sofrem", conforme se lia no velho catecismo de São Pio X. A proposta foi apresentada na sexta-feira ao Papa Bento XVI pela Comissão Teológica Internacional que esteve reunida no Vaticano entre os dias 2 e 6. Para esta comissão, as crianças que morrem sem o baptismo "ficam nas mãos de Deus misericordioso".

A ideia de Limbo, concebida para salvaguardar a necessidade do baptismo para a salvação eterna, nunca chegou a ser considerada pela Igreja como verdade de fé, e o novo Catecismo da Igreja Católica nem sequer se lhe refere. Aliás, já Bento XVI, em 1984 - na altura Joseph Ratzinger, enquanto presidente da Congregação para a Doutrina da Fé -, tinha dito que o Limbo era apenas uma hipótese teológica. Ou seja, a sua existência não era oficial.

Para que aquele conceito desapareça dos manuais de catequese não será necessário um acto oficial do Papa. Bastou uma cerimónia litúrgica, na sexta-feira, quando a Comissão Teológica Internacional entregou ao Papa as conclusões.

Porém, a doutrina oficial mantém que o baptismo é essencial para se alcançar o Céu. Por isso é que os papas da época dos Descobrimentos, ao perceberem que havia um mundo de homens desconhecido, se apressaram a enviar missionários só com o objectivo de ministrar o baptismo, para os livrar do Inferno. Neste sentido, permanece no ar uma questão. Para onde vão as pessoas que, tendo nascido antes de Jesus, nunca tiveram hipótese de ser baptizadas?

A resposta terá de ser dada por futuras comissões teológicas.

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