Senador do rock, pai do punk ou até avô, tendo em conta a provecta idade, são alguns dos epítetos que habitualmente surgem associados ao nome de Iggy Pop, o mais recente cabeça de cartaz anunciado para a edição deste ano do Super Bock - Super Rock. Com os Stooges, primeiro, e depois a solo, o seu percurso confunde-se com a própria história do rock, formando, com Lou Reed e David Bowie, com quem os seus caminhos por diversas ocasiões se cruzaram, uma espécie de Santíssima Trindade da qual é hoje o único sobrevivente..Nascido a 21 de abril do já distante ano de 1947 em Muskegon, Michigan, James Newell Osterberg, é este o seu nome de batismo, cedo se deixou influenciar pelo rock e ainda no liceu formou a primeira banda, The Iguanas, onde assumiu as funções de baterista e da qual viria a derivar o nome de palco com que se viria a tornar lendário..Através dos Rolling Stones, deixou-se seduzir pelos blues, replicando os trejeitos de Mick Jagger no seu grupo seguinte, The Prime Movers, que abandonaria pouco tempo depois, ao ingressar na universidade do Michigan. A experiência académica seria breve, com Iggy a desistir para se mudar para Chicago, onde começou por ganhar a vida como baterista em clubes de blues..Foi aí que, inspirado por bandas como os Sonics e os MC5, acabou por formar os Stooges, com o amigo e guitarrista Ron Asheton. Uma festa de Halloween em casa de amigos foi o local de estreia da banda, inicialmente denominada de Psychedelic Stooges, que logo chamou a atenção pelo uso de instrumentos tão estranhos como latas de tinta ou aspiradores. Depois de assistir a um concerto dos Doors, Iggy deixa a bateria, para assumir as funções de vocalista. Tornam-se então famosas as suas atuações selvagens, rolando ensanguentado sobre vidros ou despindo-se completamente, enquanto esfregava manteiga de amendoim pelo corpo, para depois se atirar para o público, criando essa verdadeira instituição do punk-rock que viria a ficar conhecida como stage diving..A estreia discográfica do grupo, com o álbum homónimo de 1969, apesar da produção do Velvet Underground John Cale e de incluir dois dos maiores clássicos do rock - I Wanna Be Your Dog e 1969 - passaria quase despercebida. A história voltaria a repetir-se no ano seguinte, com Fun House, numa altura em que as drogas duras começaram também a fazer cada vez mais parte do dia-a-dia do grupo, que acabaria despedido da editora Elektra, levando ao seu fim nesse mesmo ano..Muitas ressurreições da iguana.A convite de David Bowie, Iggy Pop (tal como havia feito Lou Reed após o fim dos Velvet Underground) muda-se para Londres, para tentar uma definitiva ressurreição do grupo, que, com uma nova formação, acabaria por ainda editar o seminal Raw Power, último registo dos Stooges, que viriam novamente a separar-se em 1974, outra vez devido ao abuso de drogas..Depois da meteórica carreira dos Stooges, Iggy Pop parecia destinado a tornar-se um mero rodapé na história do rock. Chegou a viver como sem abrigo e após algumas tentativas falhadas de relançar a carreira, acabou por ser internado em Los Angeles, devido à adição às drogas. É nessa altura que surge na sua vida um anjo salvador, de seu nome David Bowie, na altura já uma super-estrela no firmamento do pop-rock, que lhe oferece um lugar na sua banda. E seria novamente Bowie a relançar-lhe a carreira, quando ambos se mudam para Berlim, onde Bowie produz os dois álbuns que viram a tornar-se a marca de água da carreira a solo de Iggy Pop: The Idiot e Lust for Life, ambos lançados em 1977..E a partir daí, nada mais seria igual para Iggy Pop, que gradualmente se viria a emancipar de Bowie, tornando-se, ele próprio, nas décadas seguintes, numa das figuras maiores do rock, com nome inscrito no Rock and Roll Hall of Fame, graças a álbuns como Blah, Blah, Blah (1986), Brick by Brick (1990), American Caeser (1993) e mais recentemente com Skull Ring (gravado em 2003 com os velhos companheiros dos Stooges) ou o jazzístico Préliminaires (2009)..Ocasionalmente, tornou-se também ator e escritor, mas é com a sua música que continua a surpreender, como mais uma vez aconteceu este ano com o novo disco Post Pop Depression, escrito a meias com Josh Homme, vocalista e guitarrista dos Queens Of The Stone Age, no qual, aos 68 anos, volta a dar provas de toda a sua vitalidade artística. É este álbum que o traz de novo a Lisboa, até ao palco principal do Super Bock Super Rock, transformado este dia 15 de julho num altar de culto, onde os fiéis em peregrinação irão prestar, mais uma vez, a homenagem devida a este verdadeiro Deus vivo do rock and roll.