Ícones de Nova Orleães
Bairro
Francês
O Bairro Francês é um dos mais antigos e famosos de Nova Orleães, com construções dos séculos XVIII e XIX e, apesar do nome, muita da sua arquitectura foi construída pelos espanhóis, que o reergueram de acordo com as tendências modernas após o incêndio de 1794. Abundam por isso telhados elaborados e varandas decoradas com ornamentos em ferro. A maior cidade da Luisiana, fundada pelos franceses em 1718, estava na altura sob o domínio espanhol. Mas, em 1801, voltou às mãos dos franceses, enquanto Napoleão tentava dominar Espanha. Este optou por vender a Luisiana aos EUA, dois anos depois, por 15 milhões de dólares. A Jackson Square (praça) é uma das atracções turísticas do bairro. Foi assim baptizada depois da Batalha de Nova Orleães, em 1815, em homenagem ao futuro presidente Andrew Jackson. Nessa batalha, os americanos liderados pelo general contaram com a ajuda de marinheiros portugueses a bordo do navio pirata de Jean Lafitte, vencendo os britânicos. No Vieux Carré, como também é conhecido, outras atracções são o bar Pat O'Brien's e o seu cocktail especial chamado Hurricane (furacão).
Carnaval
O Carnaval é um dos eventos que chamam mais turistas à cidade de Nova Orleães. E, para o de 2006, existia já um calendário dos festejos a realizar até 28 de Fevereiro, data da Mardi Gras (Terça-Feira Gorda). Os desfiles carnavalescos em que abundam as cores roxa, que simboliza a justiça, verde, que significa a fé, ou dourada, que representa o poder, duram duas semanas. Quase todas as paradas da época da Mardi Gras têm um rei e uma rainha. Estes são seguidos por carros alegóricos que transportam os membros de cada grupo, que vão atirando bugigangas à multidão. Muitos desses objectos tornam-se peças de colecções que crescem ano após ano.
Miscigenação
Nova Orleães tornou-se, desde muito cedo, uma cidade cosmopolita com uma população poliglota e com uma miscigenação de culturas. A Big Easy tornou-se conhecida pela mistura da cultura dos cajuns, descendentes dos acadianos, ou seja, os colonos franceses expulsos do Canadá pelos britânicos em 1713, com a cultura dos crioulos franceses, que em grande parte fugiram do Haiti quando estalou a revolução dos independentistas negros em 1807. A comida tradicional cajun é muito procurada pelos turistas que visitam esta cidade.
Funerais
com jazz
As tribos da África ocidental (de onde vieram os escravos para Nova Orleães) tinham como tradição tocar música nos funerais. Já no século XIX, quando membros dos clubes privados morriam, organizavam-se grandes procissões a caminho do cemitério, com as bandas a interpretarem músicas compostas para a ocasião - entre o lamento, a oração e a celebração. Bandas especializaram-se neste estilo. Porque, como diria o músico Sidney Bechet (1897-1959), "em Nova Orleães a música faz tanto parte da vida como da morte". Actualmente, apenas os funerais de grandes músicos têm esta honra. A tradição é mantida ainda pelo Backstreet Cultural Museum, que, anualmente, no Dia de Todos os Santos, organiza um Funeral com Jazz. Sem morto, só com música.
Louis
Armstrong
Considerado o maior dos nomes do jazz, Louis Armstrong (1901-1970) nasceu no seio de uma família pobre de Nova Orleães e aprendeu a tocar trompete no Centro de Correcção para Negros, para onde foi enviado aos 12 anos depois de disparar um tiro para o ar nas comemorações de Ano Novo. Alimentou o gosto pelo jazz ouvindo as várias bandas da cidade, sobretudo a de Joe "King" Oliver, que foi o seu mestre e, inclusive, lhe ofereceu o seu primeiro trompete. Em 1922 deixou Nova Orleães para se tornar uma estrela internacional. Trompetista virtuoso e cantor inigualável, Armstrong surpreendia com as suas improvisações. Ao longo da sua vida, deu uma média de 300 concertos por ano. Compôs vários temas que viriam a tornar-se standards do jazz e interpretou muitos outros, no seu estilo muito próprio. It's a Wonderful World é apenas um dos seus muitos êxitos.
Mississípi
O Mississípi, cujo nome deriva da designação usada pelos índios algonquinos para "grande rio" ou "o pai dos rios", tem a sua nascente no lago de Itasca. O primeiro explorador branco a navegar no segundo maior rio dos EUA foi Hernando de Soto, em Maio de 1541, que o baptizou de rio do Espírito Santo. Mais tarde, em 1682, os exploradores franceses René Robert Cavalier, Sieur de La Salle e Henri de Tonty reclamaram todo o vale do rio Mississípi para a França, chamando- -lhe Luisiana, em homenagem ao rei Luís XIV. Frequentadas e povoadas por piratas como John Murrell, conhecido assassino, ladrão de cavalos e mercador de escravos a quem o escritor Mark Twain dedicou um capítulo do livro Life on the Mississippi, as águas deste rio já galgaram os diques que as tentaram controlar várias vezes no passado. As cheias de 1927 e de 1993 eram, até agora, consideradas as mais graves. No Mississípi flutuavam também muitos casinos que, depois da passagem do Katrina, ficaram destruídos ou foram encerrados por tempo indeterminado.
Tennessee
Williams
Em 1937, após terminar o curso e com dificuldade em arranjar emprego na sua terra natal (Mississípi), Tom Williams foi morar em Nova Orleães. Foi aí que decidiu mudar o nome para Tennessee e que iniciou a sua carreira de escritor. Apaixonado pela cidade a que chamava o seu "lar espiritual", Tennessee Williams (1911-1983) passou lá grandes períodos da sua vida. Desde 1986 que, todos os anos, durante cinco dias de Março, realiza- -se ali o Festival Literário Tennessee Williams. Além do encontro de escritores, das leituras e representações teatrais, um dos eventos mais carismáticos do festival é um concurso de "gritos por Stella" - em que cada participante imita Marlon Brando numa das mais conhecidas cenas de Um EléctricoChamado Desejo, cuja acção se passa precisamente em Nova Orleães.
Truman
Capote
O autor de A Sangue Frio nasceu em Nova Orleães a 30 de Setembro de 1924, filho de funcionário de uma das companhias dos vapores e de uma "rainha da beleza" de apenas 16 anos. Quando tinha apenas quatro anos, os pais divorciaram-se e o pequeno Truman foi enviado para casa de familiares no Alabama. Truman Capote só voltaria a Nova Orleães com 17 anos e por pouco tempo. Mas o eixo Alabama-Missuri-Luisiana é o cenário de muitas das suas obras.
William Faulkner
Oriundo de New Albany, Mississípi, William Faulkner (1897-1962) viveu durante seis meses de 1925 no número 624 da Pirate's Alley, Bairro Francês, e foi aí que escreveu o seu primeiro romance, Soldier's Pay. Outros textos desta altura, publicados nos jornais e revistas locais, foram depois reunidos num volume intitulado New Orleans Sketches. E no seu segundo romance, Mosquitoes, faz um retrato satírico da vida boémia dos artistas e intelectuais de Nova Orleães. A Ca-sa de William Faulkner é hoje património nacional e sede da The Pirates Alley Faulkner Society, que organiza debates, leituras e um concurso anual de literatura.