Num mundo global como o de hoje, cada vez mais pequeno graças a uma crescente interligação entre pessoas, regiões estados e economias, mas também devido a catástrofes globais que a todos nos tocam, como as alterações climáticas ou as crises humanitárias que em todo o mundo ocorrem, a cultura de um povo e de cada indivíduo pode ser o elo mais forte para unir povos e quebrar barreiras..Conhecida que é a História comum entre a América Latina e a Península Ibérica, que importa sempre debater e desmistificar, é também inegável que as duas regiões, separadas apenas por um Atlântico cada vez mais estreito, são uma potência cultural afirmada e rica em diversidade de expressões que têm, no fim de contas, traços que se cruzam..Da literatura à música, passando pelo cinema, a pintura, as artes plásticas ou o teatro, sem nunca esquecer todas as manifestações que têm originado ou recebem influências das culturas de um sem número de povos indígenas de toda a América Latina, a cultura Ibero-americana afirma-se e é reconhecida em todo o mundo. Importa, por isso, que se faça cumprir este desígnio fundamental de aproximação e união de pessoas através destas manifestações culturais..É precisamente com esse desígnio em mente que me juntei à Organização de Estados Ibero-Americanos (OEI) e à Fundação José Saramago para organizar os "Encontros Ibero-Americanos: literatura e música", que ao longo deste ano já realizaram sete sessões nas quais escritoras e escritores ibero-americanos partilham as suas obras, ideias e paixão pelas artes com músicos de várias nacionalidades..Ao longo destas sessões contamos com perto de 30 músicos e escritores de 12 países como Cuba, Colômbia, Brasil, Portugal, República Dominicana, Espanha, Argentina e Equador, mas também de espaços fora desta região, como França, Luxemburgo ou Afeganistão e que atestam a capacidade de conexão que a cultura pode ter..No entanto, por louváveis que sejam, por muito que sejam capazes de levar novas propostas culturais a novos públicos, estas iniciativas de influência quase local, precisam de ser acompanhadas de posicionamentos políticos e institucionais por parte de governos e organizações internacionais que sejam capazes de promover cultura, potenciar artistas e proteger culturas regionais, mostrando-as, simultaneamente, ao mundo enquanto se promove também o desenvolvimento e a coesão..Foi com estes objetivos que a OEI aprovou e adotou, logo em 2006, a Carta Cultural Ibero-Americana que estabelece, com base nas recomendações de académicos e agentes culturais da região, as bases da cooperação cultural ibero-americana a partir da sua diversidade e riqueza cultural, assim como do valor da cultura como princípio indispensável para o desenvolvimento social e económico da região e enquanto contributo fundamental para a coesão social e para a proliferação de uma cultura de paz..Esta carta, maioritariamente focada nos países em desenvolvimento, materializa, ainda assim, os mesmos princípios que norteiam os nossos encontros de literatura e música: afirmar a cultura como eixo fundamental para o desenvolvimento integral do indivíduo; defesa da diversidade cultural na sua multiplicidade de identidades, idiomas e tradições; fomentar o intercâmbio e o diálogo cultural; e proteger e difundir o património cultural ibero-americano através da cooperação..Este trabalho passa também por cada um de nós, de querermos conhecer culturas que nos são próximas. Leia hoje um poeta colombiano, oiça amanhã um músico cubano e conheça depois um pintor espanhol. Verá que estão mais próximos de si do que julga..Poeta colombiana