Iberanime, da realidade ao sonho e à fantasia
Quando me perguntam como defino o Iberanime em uma palavra respondo sempre: "sucesso".
Sem querer parecer arrogante - e quem tem acompanhado o maior evento de cultura pop japonesa em Portugal ao longo dos anos sabe que de arrogância não se trata -, esta palavra define bem o crescimento, desenvolvimento e o próprio tema do evento.
Há uns anos, ainda bem antes da 1.ª edição em Lisboa, deparei-me com este fenómeno que é o j-pop dentro da minha própria casa. Tendo dois filhos e querendo, naturalmente, aproximar-me deles, fui cruzando caminhos com um pouco de tudo o que ia chegando a Portugal na altura: as cartas do Pokémon que o Bruno e o Guilherme jogavam no recreio da escola, o Dragon Ball que os colava, religiosamente, à televisão, ou mesmo os Beyblades que invadiam o chão da cozinha.
Contudo, mesmo apreciando esta nova cultura (sobretudo a fantasia que tanto a caracteriza!), realizar um evento sobre a mesma não estava, ainda, no meu horizonte, e foi apenas quando viajei para o Brasil que me deparei com o que seria uma convenção sobre o assunto.
Pequena, realizada em praça pública, foi nesta reunião de fãs da cultura pop japonesa que entrei em contacto, pela primeira vez, com um outro fenómeno: o cosplay.
Fascinado com aquele sentido de união e comunidade, voltei para Portugal com mais curiosidade, interesse e vontade de explorar este novo universo que, aparentemente, tinha já muita adesão no estrangeiro. Como tal, visitei a Japan Expo, em Paris, e o Japan Weekend, em Barcelona.
Foi depois de estas duas experiências maravilhosas que decidi que Portugal tinha de ter algo, minimamente, parecido.
Quanto mais não fosse, um lugar onde os meus filhos e todos estes jovens e adultos se reunissem, conhecessem e fossem quem queriam, sem medos!
Como tal, pesquisei o que havia em Portugal que pudesse assemelhar-se a uma convenção de fãs de cultura pop japonesa e rumei a Sintra, a uma Escola Secundária.
Quem diria que em Portugal inteiro, apenas um pequeno grupo de jovens, em Sintra, tinha essa vontade de se reunir em torno deste vasto universo?
Visitei, conheci os jovens, interessei-me pelo que seria para eles a definição de uma convenção de sucesso, juntei as suas ideias às minhas e dos meus filhos e fiz acontecer!
A 13 e 14 de maio de 2010, o Estádio Universitário, em Lisboa, reuniu cerca de 500 fãs de cultura pop japonesa. Tenha sido dos workshops, dos concertos, da cosplayer internacional Giorgia Vecchini, ou mesmo da competição de cosplay, algo é certo: foi um sucesso.
Depois desse fim de semana, onde miúdos e graúdos passeavam de sorriso estampado na cara, hoje estamos a caminho da 12.ª edição na Invicta que será a 24.ª a nível nacional.
E que jornada tem sido!
Olhando em retrospetiva, é um orgulho enorme saber que contribuí não apenas para o cruzamento de duas culturas fascinantes, mas, também, para o desenvolvimento e crescimento do cosplay em Portugal.
Na verdade, e mesmo que hoje ainda menos, na altura, o cosplay era olhado como algo estranho e, consequentemente, abafado pelos próprios admiradores do fenómeno.
Havia vergonha de quem o queria praticar e, claro, algum preconceito de quem não o entendia.
Incentivado por esta vontade de criar um espaço onde se pode ser quem se quer ser, fez-se nascer (e ainda hoje se mantém!) a primeira competição mundial de cosplay com final em Portugal, tendo chegado a reunir, numa das edições, cerca de 18 países: o Cosplay World Masters.
Tomando lugar, normalmente, nas edições do Iberanime de Lisboa, esta competição trouxe, e traz, para Portugal o que de melhor se faz lá fora, abrindo novos horizontes aos jovens e mostrando-lhes que, de facto, a paixão pelo anime, os jogos, a manga, pode realmente levá-los a criar coisas admiráveis.
Se repetir que, realmente, tudo isto foi e tem sido um sucesso: perdoem-me.
A verdade é que é maravilhoso ver como há quem nos continue a visitar, ano após ano, inclusive já com crianças pequenas.
É fantástico sentir que os jovens se encontram a si próprios naqueles dois dias, que aprendem mais e conhecem novas realidades.
E é sempre de coração cheio que desmontamos um evento que demora um ano inteiro a ser pensado e que em dois dias se vai, mas deixa, sempre, um sorriso na cara.
E isso, sim, vale a pena repetir.
Administrador da Manz Consultores