"Humildade, gratidão e profundo sentido de responsabilidade"

António Guterres reafirmou que a paridade de género será uma prioridade do seu mandato de cinco anos à frente da ONU
Publicado a
Atualizado a

O português António Guterres declarou ontem que "a credibilidade" das Nações Unidas foi a vencedora do inédito processo de transparência que culminou na sua eleição como nono secretário-geral da organização.

O agora secretário-geral eleito das Nações Unidas assume formalmente funções a 1 de janeiro de 2017 e por um período de cinco anos, renovável, sucedendo ao sul-coreano Ban Ki-moon - tendo os dois estado juntos na sessão de cumprimentos que marcou o final da cerimónia de ontem, na Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque.

Numa intervenção em inglês e francês, onde também usou o espanhol, António Guterres disse estar perante a Assembleia Geral das Nações Unidas com "humildade, gratidão e profundo sentido de responsabilidade". O ex-primeiro-ministro mostrou-se "consciente dos desafios que a ONU enfrenta e das limitações" do cargo que agora vai ocupar, mas frisou que "ninguém tem todas as respostas" nem deve querer "impor a sua vontade" aos Estados membros.

Afirmando que não tem "nenhuma agenda a não ser a da Carta das Nações Unidas", Guterres assegurou que será "um mediador, um construtor de pontes e um interlocutor honesto para encontrar soluções" para os múltiplos desafios da atualidade - desde logo para "partir a aliança" que junta terroristas e extremistas, por um lado, e populistas e xenófobos, por outro, dado que se "reforçam mutuamente".

Guterres lamentou ainda que a paz seja "a grande ausente" no mundo de hoje, pois sem ela "não podemos garantir o desenvolvimento sustentável e o respeito pelos direitos humanos". Acresce que "os conflitos atuais não conhecem mais nada além de perdedores" - "parecem intermináveis, são mais e mais complexas e interligadas e alimentam o ódio e o terrorismo", registou o ex-primeiro-ministro português.

O antigo alto-comissário para os Refugiados abordou igualmente a questão das mulheres dentro da organização, assegurando que a paridade de género será "uma prioridade" - momento em que foi interrompido por uma salva de palmas da audiência.

Lembrando que as mulheres estão entre as primeiras vítimas na sociedade, na família, no trabalho ou da violência armada, Guterres frisou que "a proteção e o empoderamento das mulheres são e continuarão a ser" uma prioridade para ele, a exemplo do que fez - como assinalara antes a embaixadora dos EUA, Samantha Power, ao dizer com uma nota de humor que "ser mulher não é uma das melhores qualidades" do português - como alto-comissário e como chefe do governo português.

O nono secretário-geral da ONU recorreu depois à língua de Cervantes para agradecer o esforço e a dedicação dos capacetes-azuis espalhados pelo mundo - a que se seguiu um apelo aos Estados membros para não deixarem que "comportamentos repugnantes" da parte de alguns dos seus militares (nomeadamente abusos sexuais) possam manchar a imagem das Nações Unidas.

Na sessão em que participou o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, Ban Ki-moon observou que Guterres "é talvez mais conhecido onde conta mais, na linha da frente do conflito armado e do sofrimento humano". "Os seus instintos políticos são os das Nações Unidas", enalteceu o secretário-geral cessante, destacando o "espírito de servir" de António Guterres - alguém que "reconhece a importância da capacitação das mulheres" - e a sua "profunda e sólida experiência política", adiantou Ban Ki-moon, numa cerimónia que começou com um minuto de silêncio em memória do rei da Tailândia.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt