\tNum comunicado, a organização internacional de defesa e promoção dos Direitos Humanos sustenta que, passado um mês, as autoridades brasileiras "ainda não fizeram esforços relevantes para investigar as mortes" e que as averiguações sobre a "chacina" devem ser "completas, independentes e imparciais", contando com a cooperação "integral" do Exército. .\tSegundo a HRW, a nova lei que expande a jurisdição da justiça militar para tratar de casos como esse "está a dificultar" as investigações, razão pela qual o Ministério Público Militar "não está a fazer o suficiente" para averiguar o caso..Investigadores da divisão de homicídios da Polícia Civil recolheram já os depoimentos dos polícias envolvidos na operação. No entanto, é necessário que o Ministério Público do Rio de Janeiro ouça todos os envolvidos na operação conjunta do Exército e da Polícia Civil. .Até ao momento, o Exército não disponibilizou os militares para prestarem depoimentos como testemunhas aos promotores do Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública do Ministério Público (GAESP-MPRJ) -- responsável por investigar execuções extrajudiciais e outros abusos cometidos pela polícia..Por outro lado, também não forneceu ao GAESP uma lista com os nomes dos membros do Exército que participaram nas operações no Complexo do Salgueiro, lê-se no documento assinado por Maria Laura Canineu, diretora do Escritório Brasil da Human Rights Watch..Uma lei aprovada em outubro de 2017 transferiu para a justiça militar os casos de homicídios contra civis cometidos por membros das Forças Armadas durante operações de segurança pública, como pode ter sido o caso das mortes no Complexo do Salgueiro. ."Além de tornar virtualmente impossível a condução de uma investigação independente a crimes dessa natureza, a lei ameaça conferir absoluta impunidade a execuções extrajudiciais, pelo que precisa de ser imediatamente revogada", disse a Human Rights Watch..Mesmo sob a orientação da nova lei, acrescenta-se no comunicado, o Ministério Público Militar pode e deve fazer mais para investigar esses crimes..Segundo a HRW, os promotores de justiça militar têm competência para determinar quais os membros das Forças Armadas que podem prestar depoimentos, além de poderem denunciá-los nos tribunais militares. .A procuradora de justiça militar responsável pelo caso, disse porém à HRW que estava a contar com o Exército para recolher os depoimentos daqueles que participaram na operação. A 07 de novembro, cerca de 3.500 polícias e militares realizaram uma megaoperação no Complexo do Salgueiro e na comunidade Anaia, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio de Janeiro. .Como parte da operação, o Exército usou helicópteros para transportar os seus homens para uma área de mata dentro da comunidade, afirmou o Comando Militar do Exército, com sede no Rio de Janeiro. .Segundo a HRW, que cita fonte judicial, o plano passava por as forças que entraram no Complexo do Salgueiro forçarem os suspeitos a fugir pela Estrada das Palmeiras e pela área de mata, onde os militares do Exército, escondidos, os intercetariam. A operação fracassou, pois, aparentemente, alguém avisou as fações criminosas sobre o plano..Três dias depois da megaoperação, acrescenta a HRW, a Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE) -- uma unidade de elite da Polícia Civil -- e o Exército realizaram uma nova operação na mesma área, porém dessa vez com menor efetivo para evitar o vazamento de informações..Procuradores de justiça militar contaram à HRW que a CORE e o Exército entraram na comunidade em três veículos blindados que, quando chegaram à Estrada das Palmeiras, nas primeiras horas de 11 de novembro, "encontraram pessoas baleadas e feridas", não tendo contactado os serviços de emergência..O Comando afirmou que os militares não fizeram disparos, e que, por essa razão, o Exército não abriria um inquérito sobre as mortes. A procuradora de justiça militar acabou, sim, abrindo uma investigação, mas está a deixar para o próprio Exército o apuramento dos factos..Enquanto as investigações não avançam, as famílias das vítimas mortais "sofrem em silêncio", escreve a HRW.