Houston Astros confirmaram um título que estava escrito há três anos

Equipa texana ganhou o primeiro título da sua história na MLB, mas a conquista deste ano já tinha feito capa de revista em 2014
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A 24 de junho de 2014, a Sports Illustrated resolveu fazer capa com uma previsão... arriscada, no mínimo. Nessa semana, a revista norte-americana escolheu uma fotografia de George Springer, jogador dos Houston Astros, com uma manchete que apresentava "os campeões das World Series de 2017". Nessa altura, o cartão-de-visitas da equipa de Houston era o de um conjunto que vinha há três temporadas consecutivas a bater recordes históricos negativos, com mais de cem derrotas em 2011, 2012 e 2013. Sem surpresa, a capa da Sports Illustrated foi alvo de todas as sátiras. Até ontem, dia em que os Houston Astros confirmaram a previsão e se sagraram pela primeira vez campeões da MLB (Liga de basebol), com George Springer como o MVP (melhor jogador) das finais.

O primeiro título da história dos Houston Astros, até há pouco tempo uma das piores equipas da Liga, veio demonstrar que a reportagem assinada pelo jornalista Ben Reiter e eleita para a capa desse número não era um mero exercício caprichoso de futurologia. O título, obtido no jogo 7 de umas das mais emocionantes World Series dos últimos anos, frente aos LA Dodgers, era a consequência esperada (e, de certa forma, lógica) de um processo de reconstrução que os Astros tinham começado em dezembro de 2011, quando o então novo proprietário Jim Crane contratou Jeff Lunhow para diretor-geral da equipa.

Com formação em engenharia e consultoria e incursões pelo empreendedorismo tecnológico, Lunhow tinha sido responsável pelo departamento de recrutamento de jogadores dos Saint Louis Cardinals, onde tinha implementado um gabinete de scouting vocacionado para uma abordagem "científica" à análise dos jogadores e liderado por Sig Mejdal, ex-engenheiro da NASA que começou a interessar-se pelo estudo das probabilidades nos anos 80 do século passado, nos casinos, como dealer em mesas de blackjack.

O plano proposto por Jim Crane a Lunhow era claro: levar os malfadados Astros ao topo no menor espaço de tempo possível. E Lunhow só impôs como condição levar Mejdal com ele. As métricas e grelhas estatísticas desenvolvidas pelo ex-engenheiro da NASA eram o fundamento para a descoberta de novos jogadores e para o desenvolvimento deles através do sistema de ligas menores que alimenta a MLB.

Nessa altura, frise-se, os Houston Astros tinham apenas uma ida às World Series (as finais) no currículo, em 2005, nas quais foram varridos pelos Chicago White Sox (4-0), já não se apuravam para os play-offs precisamente desde esse ano e o seu sistema de formação era considerado o pior da Liga.

Os primeiros anos do processo de Lunhow e Mejdal nos Astros não foram fáceis. "Quando estivermos em 2017, os adeptos não vão querer saber se perdemos 98 ou 107 jogos em 2012. Vão querer saber, sim, quão perto estamos de ganhar o título de 2017", justificava Jeff Lunhow a essa histórica reportagem da Sports Illustrated, em 2014.

Cirurgicamente, o tempo deu-lhe razão, com os Houston Astros a imporem-se este ano aos LA Dodgers numas emocionantes World Series decididas ao sétimo jogo e nas quais George Springer, a figura de capa dessa reportagem e um dos jogadores desenvolvidos ao longo do processo, igualou o recorde de home runs das finais (cinco).

Se Springer foi o MVP, outro jogador dos Astros esteve em especial destaque no final: o porto-riquenho Carlos Correa, que, com o título garantido, resolveu pedir em casamento, em pleno estádio dos Dodgers, a sua namorada, Miss Texas 2016, e ouviu o desejado sim.

Dois meses depois da catástrofe devastadora do furacão Harvey em Houston, os Astros deram à cidade texana um raro momento de alegria desportiva, que Houston já não vivia desde o bicampeonato dos Rockets na NBA, em 1994 e 1995.

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