Hotéis e restaurantes esperam balão de oxigénio na Páscoa apesar dos custos 

O aumento dos preços da energia e das matérias-primas já está a sentir-se nas empresas de turismo. Ainda assim, as perspetivas para a segunda semana de abril são otimistas e os hotéis estimam ocupações próximas de 2019.
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Os hotéis e restaurantes estão otimistas relativamente ao período da Páscoa. A pandemia colocou, nos últimos dois anos, restrições à operação do turismo nas principais épocas festivas e, por isso mesmo, as empresas esperam que 2022 seja o início de um novo capítulo.

"Temos alguns indicadores que dão nota de que há alguma dinâmica turística, quer ao nível das viagens e das reservas para Portugal, quer mesmo ao nível interno, o que nos dá esperança de ter uma Páscoa interessante para os negócios. Sentimos que as pessoas têm muita vontade de viajar e, de alguma forma, compensar os anos marcados pela pandemia", explica a secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), Ana Jacinto.

De acordo com o último inquérito realizado aos associados da AHRESP , a maioria das empresas de restauração e alojamento tem expectativas de negócio mais positivas face a 2021, tanto no período da Páscoa (83%), como no período de verão (78%).

"No passado, o período da Páscoa tem representado simultaneamente um balão de oxigénio para todo o setor, bem como um primeiro ensaio da época de verão. Este ano espera-se que esta época festiva decorra de forma mais normalizada, no panorama do mercado internacional, do que em anos anteriores",analisa o CEO da NAU Hotels & Resorts, Mário Azevedo Ferreira. O grupo, que soma sete hotéis no Algarve, um em Lisboa e um no Alentejo, espera uma taxa de ocupação média a atingir os 60%, impulsionada não só pelos turistas portugueses mas também por mercados internacionais como o Reino Unido, França e Espanha.

Apesar de a Páscoa ser uma época com forte procura do mercado nacional, o alívio das restrições às viagens internacionais tem aumentado o apetite de turistas estrangeiros, que já está a fazer-se sentir nas reservas da segunda semana de abril."No período de Páscoa, a taxa de ocupação poderá ser superior a 70% na maioria das unidades em Portugal, principalmente com clientes portugueses, mas também com uma boa recuperação de alguns mercados emissores tradicionais, nomeadamente, o inglês e o espanhol que é particularmente forte nesta época", antevê o CEO do Pestana, José Theotónio.

As expectativas são partilhadas pelo segundo maior grupo hoteleiro português. A Vila Galé estima uma performance em linha com a registada em 2019: "Esperamos que os hotéis Vila Galé venham a registar taxas de ocupação acima dos 80%, graças à procura de turistas portugueses, mas também estrangeiros, como britânicos ou espanhóis", indica o administrador Gonçalo Rebelo de Almeida.

Na Madeira a fasquia eleva-se com a perspetiva de encher os hotéis na totalidade. O grupo PortoBay aponta para ocupações superiores a 90% e a Savoy Signature espera atingir os 100% na maioria dos hotéis no Funchal.

"Contamos com as reservas provenientes dos nossos principais mercados tradicionais, nomeadamente Reino Unido, Alemanha, França e Escandinávia. Pela instabilidade causada pela invasão da Ucrânia, foi imediata a redução nas reservas de vários mercados de leste que estavam em crescimento. Por sua vez, o mercado interno continua a gerar muita procura pelo destino Madeira com tendência a aumentar neste período de férias", detalha a responsável de vendas da Savoy Signature, Graça Guimarães.

Já em Lisboa, a retoma continua a marcar passo, num ritmo mais lento face ao Algarve, Alentejo ou Madeira. O CEO do grupo Nau admite que o hotel da capital, NAU Palácio do Governador "terá certamente um desempenho mais modesto no período da Páscoa". Também o Lisbon Marriott Hotel, o maior hotel da cidade, não perspetiva encher a unidade mas admite que a procura tem sido "interessante". Os números da ocupação, que deverão ficar "ligeiramente abaixo de 2019" serão sustentados por turistas espanhóis, ingleses e franceses. Na restauração o mercado nacional é o principal cliente. "Estamos a ter procura para o alojamento, mas como somos um hotel de cidade e não um resort a procura é diferente. Ainda assim temos boas expectativas para as reservas do nosso brunch de Páscoa e para o take-away", explica o diretor geral do hotel, Elmar Derkitsch.

Apesar das projeções otimistas para os próximos meses no turismo, a incerteza colada à escalada dos preços da energia e das matérias-primas ensombra a operação do setor. "Queremos acreditar que a Páscoa, e também o verão, serão marcados por alguma recuperação das empresas do turismo, mas uma situação de guerra na Europa está a travar essa recuperação, que desejávamos fosse mais rápida", indica Ana Jacinto. A porta-voz da AHRESP alerta que 88% das empresas que responderam ao último inquérito da associação admitiram que o impacto da subida dos custos de energia e das matérias-primas já está a ser sentido na sua atividade.

Os hoteleiros concordam que o aumento dos preços é o desafio do momento."Apesar da recuperação, o setor continua numa situação desafiante, porque enquanto nos últimos dois anos a pressão só esteve do lado da receita com uma queda abrupta da procura devido à pandemia, a que acresce nos dias de hoje a que deriva da guerra na Europa, no atual contexto há uma pressão adicional do lado da estrutura de custos, com aumentos elevados em áreas como a dos combustíveis, energia e matérias-primas", compara o CEO do grupo Pestana.

O diretor de desenvolvimento em Portugal do grupo Minor Hotels, dona dos hotéis Tivoli, Jorge Lopes, concorda. "O maior desafio prende-se com o aumento dos custos energéticos e matérias-primas agravado pelo atraso no fornecimento e aumento de preço de alguns artigos importados. A cadeia de fornecimento tem-se mantido afetada resultado da pandemia e agora impactada também pelos recentes acontecimentos na Ucrânia. Importante referir também a área de recursos humanos, no que diz respeito à retenção e ao recrutamento de colaboradores, que continua a ser uma prioridade e um desafio".

O turismo foi um dos setores que foram mais beliscados pelas consequências da pandemia e a recuperação pode agora estar comprometida. Por isso mesmo, a AHRESP pede ao governo que avance com novas medidas de apoio às empresas para amenizar o aumento dos preços.
"Caso não se adotem medidas urgentes para mitigar os efeitos desta escalada de preços em áreas fundamentais como as referidas, muitas das empresas debilitadas por dois anos de pandemia, terão sérias dificuldades. Esta situação exige que o governo adote medidas céleres com um impacto transversal nas nossas atividade", apela Ana Jacinto.

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