Álvaro Siza nunca desenhou nada com mais de 20 mil metros quadrados. Mas em 2010 vai inaugurar em Espanha a maior obra da sua vida: o Hospital Geral de Toledo, de 364 mil metros quadrados, que é já considerado um dos melhores da Europa, quer pela qualidade da assistência quer pelo traço arquitectónico..Orçada em 300 milhões de euros, esta obra assinada com os arquitectos espanhóis Antonio e Emilio Sánchez-Horneros (todos os projectos no estrangeiro têm de ter um atelier local associado) vai repartir-se por vários edifícios de volumetria variável (sete pisos de altura, no máximo), unidos por uma grande rua coberta. Tudo implantado num terreno com um quilómetro de comprimento e 300 metros de largura. Ou seja, o equivalente a um terço do centro histórico de Toledo, o que faz desta a maior obra civil empreendida na província de Castilla-La Mancha, garantem jornais como ABC ou o El Digital daquela região..Durante a apresentação do projecto à imprensa, Siza - que logo depois viajou para o Brasil, onde se encontra a acompanhar a construção da nova sede da Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre - afirmou que a sua principal preocupação foi "medir muito bem a articulação dos volumes" e "introduzir pátios abertos à paisagem". Objectivo: "domesticar o animal" e converter todo o conjunto num local agradável, tanto para quem lá trabalha como para quem tem de o utilizar. .Desenvolvido em diálogo com médicos e pessoal de saúde, este será, verdadeiramente, um complexo sanitário do século XXI, construído em betão, aço, granito, grés porcelânico ou composite (material que combina fibra de vidro e poliester)..A memória descritiva do projecto, facultada ao DN pelo atelier do arquitecto, explica que a volumetria vai variando, gradualmente, até se tornar "mais próxima do espectador". A escala é "contida" com fachadas de vidro curvo, praças ou edifícios mais baixos destinados a consultas ou serviços de apoio. Um extenso programa horizontal, com dois "contrapontos verticais": o prisma do Hotel de Pacientes e o cilindro onde se localizarão os laboratórios..Feito a pensar no futuro.Localizado no polígono industrial, a noroeste da cidade, e vizinho de um futuro hipermercado da Sonae que terá 45 mil metros quadrados, o hospital foi pensado para dispersar os fluxos de circulação e reduzir os trajectos que os utentes terão de fazer entre serviços..A acessibilidade foi, de resto, outra grande preocupação, tendo mesmo sido desenhadas vias prioritárias para emergências. Os parques de estacionamento serão, maioritariamente, subterrâneos. É a rua central que articula todos os serviços (análises, cuidados continuados de oncologia ou reabilitação, hospital de dia, etc). Morgue, zona para tratamento de reclusos, auditório e sala de culto são outras valências contempladas..Um dos aspectos que valoriza fortemente o projecto é a sua capacidade de expansão. Os blocos de urgências, imagiologia ou obstetrícia, por exemplo, foram colocados nas margens do conjunto, para que posam ser ampliados no futuro se os avanços tecnológicos assim o exigirem. Cada sector pode ser adaptado sem interferir na funcionalidade do todo..A forma aberta do Hospital Geral de Toledo - que inclui praças e jardins e foi desenhado para potenciar as vistas sobre o casco histórico da cidade e um bosque vizinho - tem, aliás, outra vantagem: "iluminação e ventilação naturais em 95% dos locais de trabalho e espera", refere a memória descritiva..Além das preocupações ambientais e energéticas que acompanharam toda a fase de concepção, há ainda algumas novidades high tech. Como o sistema de transporte de cargas robotizado (para refeições, roupa de cama e medicamentos) ou o sistema de transmissão de dados e imagens que permite ao pessoal, onde quer que se encontre, aceder a qualquer tipo de informação..Iniciada em Março, a construção será, por todos as condicionantes envolvidas, um processo nada fácil de gerir. Álvaro Siza já admitiu mesmo aos jornais espanhóis que o prazo de execução, três anos e meio, será "um pouco difícil" de cumprir. Por enquanto, ainda há que remover um milhão de metros cúbicos de terra. |