Hospitais travam infecção à entrada com testes a doentes
A Direcção-Geral da Saúde vai rastrear à entrada dos hospitais doentes com risco de estarem contaminados com bactérias perigosas, uma medida destinada a reduzir a infecção hospitalar. De acordo com Cristina Costa, coordenadora do Programa Nacional de Controlo da Infecção, o objectivo é avançar com este programa já em 2010.
A especialista em saúde pública refere que o objectivo é reduzir a transmissão "dos microrganismos mais importantes, ou seja, os resistentes, multirresistentes e os que, não sendo, causam problemas dentro da unidade de saúde, porque facilmente provocam um surto", refere. As infecções adquiridas fora das unidades de saúde, ou na comunidade, afectam mais de 22% dos doentes hospitalizados. Calcula-se que 20% a 25% das infecções com agentes resistentes possam resultar do contacto com bactérias adquiridas na comunidade.
O programa ainda será definido em conjunto com as unidades de saúde, mas a especialista frisa que apenas serão abrangidos doentes de risco neste rastreio, devendo optar-se por métodos nasais, através de zaragatoas : "Doentes de lares, unidades de cuidados continuados ou que tivessem estado hospitalizados recentemente e os mais velhos. Estes, por exemplo, têm mais probabilidades de estarem contaminados - porque foram sujeitos a mais tratamentos prévios - e têm mais doenças, como diabetes ou problemas crónicas", explica.
Apesar de ainda ser cedo, o programa deve apenas basear-se em testes e isolamento. "No hospital, se o doente tiver colonizado, pode transmitir e infectar os outros", refere Cristina Costa. Contudo, não tendo ele ainda desenvolvido a infecção, ou seja, sendo apenas portador, "não terá necessariamente de ser tratado, porque não é habi- tual. Por isso, o procedimento irá passar por "isolar doentes, de forma a evitar que transmitam a infecção. Os profissionais de saúde têm de informar que ele tem esse problema". Nos casos dos doentes com menores riscos e das visitas.
O programa já tem sido implementado em países como a Holanda ou Dinamarca, mas com outras nuances. Designa-se search and destroy - procurar e destruir - embora esteja mais virado para o combate a uma bactéria específica, o Staphylococcus aureus meticilina resistente (MRSA). Lá fora, porém, em países com maiores recursos, o rastreio é feito a todos os doentes que entram mas também a técnicos de saúde. Além disso, estes doentes, que podem apenas estar colonizados com a bactéria e não ter infecção, além de isolados são tratados até a bactéria desaparecer.
O bacteriologista Miguel Viveiros foca os resultados de países que reduziram ou quase puseram fim às resistências. "Se detectarmos a presença das bactérias e tratarmos com antibióticos impedimos a proliferação no hospital, o que é grave quando afecta os doentes cirúrgicos ou dos cuidados intensivos. Mas temo que a longo prazo surjam outros custos, como a subida das resistências".
Carlos Vasconcelos, coordenador da Comissão de Controlo da Infecção do Hospital de Santo António, no Porto, espera que "a ausência de tratamento em doentes colonizados não seja uma regra, "até porque há doentes com condições que podem piorar se não forem tratados". A unidade já faz " rastreio ao MRSA em serviços como a cirurgia vascular. Até haver resultados, o doente fica numa zona cinzenta. Se for positivo é isolado e tratado até estar livre da bactéria".