Hospitais têm oito medicamentos novos contra cancro, VIH e hepatite

Tratamentos considerados inovadores pela Autoridade do Medicamento mostraram ser mais eficazes e mais baratos do que as alternativas. Infarmed tem mais de 200 medicamentos em avaliação
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Os hospitais portugueses receberam neste ano oito medicamentos inovadores para combater cancros, VIH, hepatite C e psoríase. Metade destes novos tratamentos, que foram aprovados por darem resposta a doentes sem alternativa ou por serem mais baratos do que os já disponíveis, são dedicados à oncologia. A Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) tem ainda mais de 200 remédios em avaliação, que não serão todos inovadores, apesar de serem novos tratamentos.

Os oito inovadores que chegaram aos hospitais neste ano - não são vendidos nas farmácias - são para o cancro da próstata, linfoma, melanoma, psoríase, VIH e hepatite C. O Infarmed demorou cerca de 250 dias a aprovar os novos medicamentos, embora o aumento de peritos deva reduzir estes prazos. "Demonstraram trazer benefícios adicionais face aos medicamentos com os quais foram comparados. Podemos destacar os relativos a eficácia, segurança, custo-efetividade ou existência de vantagem económica", diz o Infarmed, que quer chegar ao final do ano com mais aprovações do que as 13 de 2015.

No lote destes oito novos tratamentos, dois são para a hepatite C. Dão resposta aos cerca de 800 doentes em hemodiálise e 200 a 300 com VIH que não podiam usar os inovadores que fizeram parte do acordo de 2015. Nos casos do linfoma e do cancro da próstata, os medicamentos trazem mais sobrevida. No melanoma a vantagem é económica. São todos para grupos específicos de doentes. "São medicamentos muito eficazes com ganhos de sobrevivência e menos sofrimento. O tempo que leva a surgir sintomas da doença, complicações ósseas, são tudo ganhos. No melanoma as respostas têm sido fantásticas, com regressão do tumor em alguns casos. A aprovação da inovação vem permitir que os doentes vivam mais tempo e desempenhem funções na sociedade", diz o médico Luís Costa.

Na psoríase, também há melhores resultados. "As perspetivas são muito animadoras, mas são usados em última linha. A psoríase tem um grande estigma, os doentes fecham-se em casa, traz problemas relacionais. Com as novas terapêuticas a pele fica quase limpa, o que muda a vida do doente. Mas é usado nos casos mais graves. Penso que deveria ser estudada a possibilidade de os biológicos serem usados mais cedo", diz Jaime Melancia, presidente da PSO Portugal.

No VIH, as vantagens são o conforto - são comprimidos únicos quando antes eram mais do que um - e preços mais baixos. "Alguns dos medicamentos das combinações vão passar a genéricos. Seria importante que as autoridades negociassem um preço que não seja só inferior ao da combinação, mas inferior à combinação com o genérico. Se não tiver sido acautelado, poderá colocar dificuldades adicionais aos médicos e aos doentes, mudando várias vezes a medicação. O Truvada e o Kivexa (nomes comerciais) são os medicamentos mais usados em Portugal e vão passar a genéricos. É importante negociar com os laboratórios, porque poderá ter um impacto enorme nas contas", aponta Luís Mendão, do GAT, salientando o compromisso assumido com a ONUSIDA de tratar mais cerca de 4000 doentes por ano até 2020.

1583 autorização especiais

O Infarmed tem mais de 200 remédios em avaliação, entre hospitalares e de ambulatório. "As áreas com mais pedidos de avaliação de comparticipação são a oncologia, infeções víricas e diabetes", explica o Infarmed. A Autoridade do Medicamento adianta que "o reconhe-cimento da inovação só é possível após a conclusão da avaliação farmacoterapêutica". Enquanto o aval não chega, a medicação fica disponível através de autorizações especiais de utilização (AUE). Até 13 de outubro foram aprovadas 1583, mas o objetivo é "diminuir substancialmente ou mesmo anular o recurso às AUE à medida que forem sendo financiados novos medicamentos".

"Caminhava a passos largos para consequências graves"

Pouco mais de ano e meio passou desde que o Ministério da Saúde assinou o acordo com a Gilead, laboratório responsável por dois medicamentos inovadores com taxas de cura da hepatite C a rondar os 95%, com o objetivo de erradicar a doença em Portugal. Desde então quase nove mil doentes iniciaram tratamento e 3943 foram declarados curados (contra 146 não curados), segundo dados do Infarmed, atualizados na última sexta-feira.

António Parente, de 53 anos e um dos fundadores da Plataforma Hepatite C, viveu durante 25 anos com o vírus. Em junho do ano passado recebeu a medicação inovadora. Um ano depois entrou na lista de doentes curados. "Já estava em fase de cirrose e caminhava a passos largos para consequências graves: tumor, transplante ou descompensação. Tinha amigos na mesma situação e sabia para onde ia. Quando fiz a última análise e a médica confirmou que me ia passar para lista de curados emocionei-me", conta.

O tratamento durou seis meses e no final o vírus já estava negativo. Nem as insónias provocadas pela medicação, tão longe dos efeitos experimentados com o interferon, o deitaram abaixo. "Havia um número tão marcante de doentes curados que dava confiança", diz. O balanço geral "é muito bom", mas ainda não é perfeito. Há doentes na fase mais precoce que não estão a ter acesso à medicação e em alguns hospitais faltam aparelhos para testes ao fígado. Outra das batalhas da associação é a criação de um rastreio para identificar pessoas que não sabem estar doentes.

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