Hospitais operaram 429 doentes nos primeiros três meses
Nos primeiros três meses do ano os hospitais operaram 429 doentes com obesidade, mais 82 que no mesmo período do ano passado. O Ministério da Saúde lançou um programa com 12 milhões de euros com objetivo de operar até ao final do ano 2 mil doentes, mas de a tendência do primeiro trimestre se mantiver, o incentivo não será suficiente para chegar ao valor desejado. Os dados do Portal do SNS mostram que em muitos hospitais os tempos de espera para cirurgia e consultas estão muito acima do recomendado. Especialistas defendem que é preciso apostar na prevenção.
"No primeiro trimestre tivemos um aumento de 23,6% de cirurgias comparado com o período homólogo", diz ao DN Ricardo Mestre, da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), referindo que "o crescimento está dentro do esperado". Quanto à mediana de tempo de espera para cirurgia, a 31 de março foi de 5,6 meses, quando no período homólogo foi de 6,2 meses. "Com o decorrer do programa, ao longo do ano, a mediana de tempo de espera continuará a baixar. O programa será mantido enquanto for necessário", assume.
Carlos Oliveira, presidente da Associação de Doentes Obesos, questiona "uma mediana tão baixa" quando há "hospitais com mais de dois anos de espera para cirurgia". "Sabemos que a maior parte dos hospitais tem as consultas fechadas e só quando as abrirem é que poderemos saber realmente quantas pessoas estão a aguardar por tratamento", afirma.
A ACSS não deu o número de doentes em lista de espera, nem qual a percentagem que aguardava acima do tempo máximo recomendado. Que no caso de prioridade normal é de 270 dias para cirurgia e 150 para consultas. Em Évora a espera para cirurgia é de pouco menos de três anos e para a primeira consulta é de 624 dias.
"Temos apenas uma equipa de cirurgia e estão mais médicos em formação. O acompanhamento dos doentes não é linear. Precisa de equipas multidisciplinares, de muita proximidade e disponibilidade e não é possível fazer formação rápida. No caso de Évora, o novo hospital permitirá aumentar a capacidade de resposta cirúrgica. Mas vamos ter sempre dificuldade em responder, porque no sul somos a praticamente a única equipa a trabalhar na área", explica ao DN José Robalo, presidente da Administração Regional de Saúde do Alentejo.
Em Faro a espera para cirurgia é de 702 dias e no Egas Moniz (em Lisboa) 301 dias. A administração salienta que o hospital "excede 31 dias" o tempo máximo, explicando que a cirurgia ocorre depois de o doente cumprir um programa de intervenção multidisciplinar e se estiver preparado para a mesma. Este ano já operaram 21 doentes e têm 116 em lista de espera.
Prevenção é essencial
Jorge Santos, presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia da Obesidade, adianta que "há mais doentes obesos" e com isso o número de inscritos para consulta e cirurgia também aumenta, exercendo maior pressão sobre os hospitais que estão limitados na sua capacidade de resposta. Ainda assim, considera que a mediana de tempo de espera "é boa", lembrando que "a cirurgia não é um milagre" e que é preciso uma intervenção multidisciplinar. "Se os doentes não estiverem preparados, não tiverem feito uma aprendizagem, as cirurgias terão menos sucesso", diz, defendendo que a intervenção preventiva deve ser sempre uma prioridade".
Paula Freitas, presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade, afirma que não se podem esquecer os muitos doentes com obesidade que se não forem alvo de intervenções nutricionais, psicológicas e de promoção e exercício acabarão por engrossar as listas para cirurgia. Por isso não hesita em afirmar que "se deve investir primeiro na prevenção e segundo nos tratamentos médicos (dieta, exercício, modificação comportamental e farmacológicos), de modo, a romper esta progressão inexorável para situações cada vez mais graves de obesidade com necessidade cirúrgica". Mesmo no caso dos doentes que vão ser operados a educação, reforma, "é fundamental" para que se inicie "uma mudança de comportamentos para toda a vida".