Hospitais dão aos médicos 50 euros à hora para trabalhar nas urgências
O Hospital Fernando Fonseca (Amadora Sintra) está a recrutar médicos para assegurar a escala das urgências em agosto, oferecendo 50 euros por hora (três vezes mais do que ganham os do quadro) e turnos de 12 e 24 horas, mas este valor pode não chegar para contratar clínicos suficientes de forma a evitar situações de rutura.
O Sindicato Independente dos Médicos e a Ordem concordam que nem a possibilidade de os tarefeiros auferirem 1200 euros num dia - quase metade do rendimento mensal dos colegas que pertencem ao quadro - assegura o atendimento aos utentes. E recorrem às seis horas de espera que se registaram no centro de saúde de Albufeira, no domingo, devido à falta de um tarefeiro, para ilustrarem as fragilidades deste recurso.
"Temos mais 50 ou 60 sítios no país a fazerem o mesmo, mas há falhas, porque os tarefeiros não estão integrados nas equipas", diz o secretário-geral do Sindicato Independente do Médicos (SIM), Jorge Roque da Cunha. Por outro lado, os hospitais que recorrem aos tarefeiros justificam ser este o caminho mais curto para cobrirem as férias dos médicos do quadro e o aumento de população, sobretudo, nas zonas turísticas.
Além do Amadora Sintra, Roque da Cunha cita os casos dos hospitais de "Faro, Évora ou São Francisco Xavier", num ano em que as unidades de saúde estão cada vez mais dependentes dos médicos prestadores de serviços. Só nos primeiros cinco meses do ano os serviços já gastaram em prestações de serviços clínicos 39 milhões e 744 mil euros, mais cinco milhões de euros que no período homólogo.
Mas a contratação de tarefeiros não significa isenção de falhas na hora de preencher a escala. Prova disso, justifica Jorge Roque da Cunha, foi o que aconteceu no Serviço de Urgência Básica (SUB) de Albufeira, onde no domingo esteve apenas um médico a atender, enquanto os doentes chegaram a esperar cerca de seis horas, devido à falta de um tarefeiro que estava escalado para reforçar uma equipa de dois médicos fixos.
O presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Algarve, Joaquim Ramalho reconheceu a existência de uma falha nas escalas em declarações à TSF, assegurando que os turnos estão organizados, mas se algum tarefeiro falta a gestão do hospital só consegue "reagir em cima da hora".
"Além das fragilidades desta solução com que o ministério continua a teimar, há a questão da desmotivação", alerta Roque da Cunha, para quem é difícil explicar "como é que um médico que trabalha 48 horas em dois dias ganha quase o mesmo que um médico do quadro num mês (2770 euros)".
O DN tentou obter um comentário do Ministério da Saúde sobre o assunto, mas sem sucesso, acontecendo o mesmo em relação ao Hospital Amadora Sintra, a mais recente unidade de saúde a anunciar estar a contratar tarefeiros, depois de já este mês também o hospital de Hospital Pedro Hispano, Matosinhos, oferecer 45 euros à hora.
É também à "boleia" do caso de Albufeira que o bastonário José Manuel Silva assegura ter fracassado a aposta da tutela na tentativa de reforço de cuidado de saúde durante o verão no Algarve. Aliás, o secretário de Estado da Saúde, Manuel Delgado, anunciou em maio, em Faro, que essa aposta incluía o prolongamento do horário de atendimento em 12 centros de saúde.
"Não temos acesso a todas as escalas, mas é obvio que faltam médicos no Algarve", afirma José Manuel Silva, alertando que "os internos das especialidades estão a ser sobrecarregados" e que as seis horas de espera de Albufeira foram aliviadas por um médico que viajou de Faro. "Mas é claro que isso teve repercussões nas urgências de Faro", insiste o bastonário, alegando que as "equipas são exíguas e basta faltar um elemento para haver logo grande diferença". José Manuel Silva sustenta residirem aqui os tempos de espera.
Já Jorge Roque da Cunha lamenta que o ministro Adalberto Campos Fernandes recuse repor o pagamento de horas extras. "Estamos a falar de diretores de serviços de responsabilidade máxima de nove euros à hora. Prefere continuar a pagar 50 euros/hora pela prestação de serviços a indiferenciados", diz.