Hope, a orangotango que sobreviveu a 74 disparos e à morte do filho bebé
Ferimentos de 74 disparos de caçadeira de pressão de ar, cortes feitos com objetos contundentes, cega, com ossos fraturados e em profundo trauma. Um verdadeiro cenário de terror, relatado pelos veterinários do Programa de Conservação do Orangotango da Sumatra para descrever o estado de saúde de uma orangotango fêmea, que foi encontrada com o filho de um mês numa plantação de óleo de palma em Ache, Indonésia.
A cria acabou por não resistir à desnutrição extrema e morreu a caminho da clínica, mas a mãe, que foi carinhosamente apelidada de Hope (Esperança, em português), sobreviveu ao massacre. "A Hope não será a última, mas ensinou-nos a ser suficientemente fortes para salvar mais orangotangos em risco", afirmam o responsáveis do centro de conservação da espécie onde a primata de cerca de 30 anos foi operada.
Hope e o filho foram encontrados há pouco mais de uma semana em estado crítico, depois do que se presume ter sido um ataque de um agricultor local. "Um dos casos mais trágicos" com que os conservacionistas locais se depararam, como confessaram no Facebook. Os veterinários ficaram chocados com os ferimentos infligidos ao orangotango, que "ainda assim não desistiu".
Depois de uma operação de quatro horas realizada no domingo, para a qual foi propositadamente chamado um ortopedista da Suíça, os médicos admitem que Hope pode sobreviver, embora não possa voltar a ser libertada no seu habitat. Só de um dos seus olhos, o esquerdo, foram retirados quatro chumbos, e no outro estavam mais dois. Ao todo, foram retirados sete dos 74 chumbos do corpo do primata, já que a prioridade era operar-lhe a clavícula. "Sabemos que ela vai conseguir sobreviver a tudo isto, é uma verdadeira lutadora", confiam os conservacionistas, que pedem donativos para a sua causa.
O orangotango-da-sumatra é uma espécie fortemente ameaçada de extinção e existem apenas cerca de 13 mil exemplares em liberdade. Os agricultores e os caçadores são as maiores ameaças para a espécie que partilha 97% do seu ADN com os humanos e que, em condições normais, pode viver até aos 60 anos.