Homem de 52 anos vai atravessar os 5430 km do rio Amazonas a nado
Nadar não lhe chegava. Nadar quilómetros atrás de quilómetros também não. Passar dias e noites e meses dentro de água como um peixe era coisa pouca. Martin Strel, um desportista eslovaco cujo nome já consta no livro de recordes do Guiness por ter atravessado o Danúbio e os rios Yan Tsé e Mississippi, deu ontem início à aventura mais ambiciosa e radical da sua vida. O nadador, conhecido como homem-peixe, vai atravessar o rio Amazonas desde o Peru até Belém do Pará, Brasil, onde deverá chegar no dia 11 de Abril.
Ao todo serão 5430 quilómetros a nado em 70 dias. Martin Strel, de 52 anos, ficará dentro de água das seis da manhã às seis da tarde e nadará cerca de 85 quilómetros por dia, podendo chegar aos 100 quilómetros se as condições forem propícias. Essa é, de resto, uma incógnita. É que o Amazonas não é um rio qualquer e as suas águas estão infestadas de piranhas, jacarés, tubarões de água doce e anacondas, uma das quais, conhecida por "pororoca", chega a formar ondas de quatro metros na foz do rio.
Olhando para o temerário atleta - de 1,85 m de altura, 111 quilos e uma barriga proeminente - é difícil acreditar que consiga estar à altura de tão grande desafio. "Esta é a travessia mais radical que já fiz. Sei que corro riscos, mas é o sonho da minha vida", disse Strel à revista Veja antes de embarcar para o Peru. O nadador também afirmou à BBC estar consciente dos perigos mas, acrescentou, "se estivesse a pensar nisso tudo nem sequer me atirava à água."
Uma das coisas em que o atleta não quer pensar é no peixe-palito, também conhecido por candiru ou Vandellia cirrhosa (nome científico). Este peixe é conhecido por subir a nado pelo pénis de quem lhe atravessa o habitat, e depois só poder ser removido através de cirurgia. A esse respeito Strel já informou a BBC: "Eu nunca urino directamente na água mas sim directamente no meu fato [de mergulhador]".
Apesar de não parecer em forma, Martin Strel tem um currículo impressionante. No ano 2000 superou os 3000 quilómetros que separam a nascente e a foz do rio Danúbio (o segundo rio mais extenso da Europa, a seguir ao Volga) e, dois anos depois, nadou 3 800 quilómetros no Mississippi, o maior rio dos Estados Unidos. Em 2004, foi ainda mais longe e atravessou 4000 quilómetros do Yang Tsé, o rio mais comprido da China.
Para planear a sua nova odisseia, Strel visitou três vezes a região amazónica. Conversou com moradores ribeirinhos e autoridades locais sobre os perigos do rio, de modo a formar uma equipa suficientemente bem preparada para o acompanhar. O atleta contará com o apoio de mais de 45 pessoas, distribuídas por três barcos, incluindo médicos e treinadores e até indivíduos armados. Se for atacado por jacarés ou anacondas, Strel vai precisar, e muito, de contar com a pontaria dos membros da sua equipa. As bolsas de sangue serão material imprescindível nos barcos e destinam-se a atrair os cardumes de piranhas e mantê-los longe do nadador. Com tudo isto, o projecto já custou, até agora, 1 milhão de dólares.
Se conseguir escapar ileso, Martin Strel pretende nada mais nada menos que atravessar o Oceano Atlântico: "Não deve ser impossível", aposta o atleta. E, tratando-se de quem é, e olhando para as suas anteriores aventuras o melhor mesmo é acreditar.