Holanda-Brasil, encontro do futebol bonito em versão pragmática

No jogo entre herdeiros das selecções que mais bem jogaram na história do futebol, haverá Pelés, Cruijffs e golos de "embala nenê"?
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Hoje, em Port Elizabeth, encontram-se os herdeiros das mais mágicas equipas da história futebolística. É o "futebol total" da Holanda contra o "jogo bonito" do Brasil, mesmo que neste Mundial ambos optem por uma versão muito mais pragmática - a ponto de Johan Cruijff dizer que "nunca pagaria" para ver jogar a equipa canarinha.

A partir das 15.00 (RTP1 e Sport TV1) defrontam-se duas equipas famosas pela forma carinhosa como tratam a bola. Mas, neste Mundial, ambas estão mais calculistas. Na senda da "laranja mecânica" de Cruijff, Neeskens e Rensenbrink (vice-campeã mundial em 1974 e 1978, baseada num carrossel ofensivo asfixiante, com constantes trocas de posição entre os jogadores), está a Holanda 2010, que gosta de ter a bola, mas sabe gerir o resultado. Na África do Sul, a selecção de Bert van Marwijk ganhou todos os jogos. Aliás, Robben, Sneijder e companhia vão em 23 partidas sem perder.

O Brasil também não perde, mas está longe do futebol bonito que o celebrizou quando foi campeão l em 1970 (com Pelé, Tostão e Rivelino)... ou quando falhou o título de 1982 (com Falcao, Zico e Sócrates). A selecção de Dunga aposta mais no erro do rival e até há quem diga que está cada vez mais parecida com a Itália (ou não tivesse cinco jogadores da Série A no onze habitual). "Nunca pagaria para ver o Brasil jogar. Têm jogadores com muito talento, mas jogam de forma bastante defensiva e pouco interessante. É uma vergonha", criticou Cruijff. Ora, o Cruijff que agora crítica o escrete canarinho é o mesmo que, em 1974, conseguiu a última vitória dos holandeses sobre os brasileiros, em encontros oficiais, no Mundial da Alemanha Ocidental.

Então, na última jornada da 2.ª fase de grupos, a "laranja mecânica" só precisava de empatar para ir à final. Mas era o Brasil que esbanjava confiança. "A Holanda não me preocupa. A minha preocupação é com a Alemanha, na final", disse, antes do jogo, o técnico Mário Zagallo. Rensenbrink e Cruijff responderam em campo, com um golo cada.

E o 2-0 final foi a passagem de testemunho entre duas das selecções que mais bem trataram a bola em todos os tempos: o Brasil 1970 ("o" exemplo da América do Sul, misto de organização ofensiva e criatividade em estado puro) e a Holanda 1974 (que apaixonou a Europa com o "carrossel" sem amarras tácticas, com o golo como objectivo). Porém, nem em 1974 nem em 1978 a "laranja" conseguiu o título. E, depois, nas vezes em que ficou mais perto (1994 e 1998) acabou afastada pelo Brasil.

No Mundial 94, os holandeses cairam diante do futuro campeão, por 2-3. Um pontapé livre do ex-portista Branco decidiu o jogo, após os europeus terem recuperado de 0-2 para 2-2. Mas foi o 0-2 que ficou na história: isolado por Romário, Bebeto fintou de Goey, marcou e festejou a imitar os gestos de quem embala um bebé, numa dedicatória ao filho recém-nascido. E assim surgiu o festejo "embala nenê". Matheus Oliveira, o "nenê" dos festejos, tem agora 15 anos, joga nas escolas do Flamengo e pede uma vitória brasileria, "2-1", no jogo de hoje, enquanto não pode cumprir o seu sonho: "Pretendo disputar um Mundial, marcar um gol e repetir a homenagem que o meu pai fez".

Entre 1974 e 1994 havia um ponto de contacto: Mário Zagallo: treinador da primeira vez, director técnico da segunda. Em 1998, o "velho Lobo", como é tratado no Brasil, voltou à selecção. E a encontrar a Holanda. Então, o jogo, das meias-finais, deu empate: 1-1 (Ronaldo e Kluivert). Mas, nos penáltis, Taffarel defendeu dois remates e criou o trauma holandês contra o Brasil. Haverá Pelés, Cruijffs ou golos de "embala nenê" esta tarde?

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