Hoje o tema é: tudo e um par de botas
Dizem que há por aí uma grande polémica em torno de um programa da SIC chamado Supernanny. Só três coisas para dizer: não vi, não gostei, não sei. Também me contam que há uma enorme controvérsia a propósito de casos horríveis de assédio, abuso e chantagem sexual em Hollywood. A atriz francesa Catherine Deneuve subscreveu um texto sobre o assunto, aparentemente pedindo que não haja confusões entre abuso e sedução - e caiu-lhe meio mundo em cima (e outro meio mundo saiu em seu socorro). Direi novamente as mesmas três coisas: não vi, não sei, não gostei.
Além do mais, temos os tweets do doido americano de manhã à noite; e o artigo do arquiteto Saraiva sobre transexualidade que levou uma comissão estatal a pôr-lhe um processo-crime; e o vómito diário que são as controvérsias dos futebóis; e o primeiro-ministro que escreveu "tive" em vez de "estive"; isto para já não falar daquela semana em que fomos informados durante vários dias sobre o trânsito intestinal do Presidente da República (porque não uma rubrica permanente na rádio, a seguir à do trânsito rodoviário?); e mais isto e mais aquilo e tudo e um par de botas (e a Raríssimas, lembram-se? Eu já não...).
Afogados em casos e casinhos a toda a hora, encaminhamo-nos para a indiferença. E a indiferença não é algo que nos faça desconhecer os temas da atualidade. É bem pior: conhecemos (pela rama) mas não queremos saber. E já nem nos damos ao trabalho de distinguir o que é importante do que não é. E também há o caso dos que têm (conheço alguns) uma capacidade incrível de dominar todo o conhecimento sobre, exclusivamente, factos absolutamente irrelevantes (os chamados fait divers). Já não é diferença, é pura e simples alienação.
Provavelmente, estou a generalizar. Este é só mesmo o meu caso individual. Em casa, com o controlo da TV na mão, fujo a sete pés de tudo o que seja informação (e dos futebóis nem se fala). À falta de novidades nas séries, revejo os Vikings. Grande conquistador, o Ragnar Lothbrok. E navegador, além do mais. Lindos de morrer, os barquinhos onde se fez ao mundo. Só lhes faltava uma vela latina. Usámo-la nós, os portugueses, uns quinhentos anos depois - e fomos bem mais longe - mas disso ninguém fala.
Sonhar com o passado, pois então, até pode ser uma panaceia. Mas não nos iludamos: tudo o que pode correr mal, corre certamente pior. Tudo isto se encaminha para acabar muito mal. O problema é que, indiferentes, podemos nem dar caso disso. Vou rever o Walking Dead.