Hoje à noite há festa da ciência. Estão todos convidados
Há propostas para todos os gostos e curiosidades: experiências com tubos de ensaio e tecnologias digitais, demonstrações, filmes, mergulhos virtuais nos oceanos, uma caça ao tesouro, jogos de computador que ensinam os segredos da energia ou da propagação da gripe, mini-vulcões em erupção, debates e até música, que, já se sabe, tem muito de matemática. Tudo isto - e mais - guiado pela mão de mais de 500 cientistas, que vão estar lá para explicar tudo o que sempre quis saber e nunca teve ocasião de perguntar.
É mais uma edição da Noite Europeia dos Investigadores, uma festa da ciência, cujo objetivo é pôr os investigadores a interagir com o público e assim aproximar a ciência das pessoas, e que hoje promete muita animação em vários locais de Lisboa, Coimbra, Évora, Braga ou Monsaraz. Começa mais logo, às 18.00, e vai até à meia-noite. O roteiro completo está aqui.
Em Lisboa, as atividades vão concentrar-se no Museu Nacional de História Natural da Universidade de Lisboa (MUHNAC), a entidade que coordena a iniciativa em Portugal, na entrada para o Jardim Botânico e, desta vez, também no jardim do Príncipe Real, ali a dois passos, onde haverá música, teatro e danças, tudo sob o mote da Ciência na Cidade - o tema da noite europeia deste ano.
"Vamos ter 121 atividades nestes três locais, com 550 investigadores presentes", diz satisfeita Raquel Barata, do MUHNAC, a coordenadora do evento. São números superiores aos do ano passado - este ano haverá mais duas dezenas de atividades e a participação de mais uma centena de investigadores - e se a tendência se estender ao público, as cinco mil pessoas que em 2017 foram à festa da ciência, ali ao museu, poderão muito bem chegar hoje às seis mil, como espera, aliás, Raquel Barata.
"A cada ano o público tem aumentado sempre, o que é muito positivo, porque significa que o nosso objetivo, que é chegar às pessoas, tem sido conseguido", sublinha.
Lançada em 2005, a Noite Europeia dos Investigadores, financiada pela Comissão europeia, é desta vez dedicada ao tema a Ciência na Cidade, "assim escolhido por este ser também o ano europeu do património", como sublinha Raquel Barata. "A ideia é ligar os dois temas e mostrar nas atividades propostas como a qualidade de vida nas cidades e o seu futuro dependem da ciência e do conhecimento", adianta a coordenadora da iniciativa.
Sílvia Costa, virologista e investigadora do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), é uma das investigadoras que participam pela primeira vez na noite europeia. Mais logo vai estar numa das bancas montadas no espaço do MUHNAC para mostrar o seu trabalho e a sua importância na vida das pessoas.
Ela estuda o vírus da gripe e os mecanismos moleculares que lhe permitem infetar as células do organismo e assim passar rapidamente de pessoa para pessoa, causando os sazonais surtos de gripes de inverno, que muitas vezes se transformam em epidemias ou mesmo pandemias (epidemias globais) com custos elevados na saúde pública e na economia.
De tudo isso falará Sílvia Costa hoje à noite, na banca que lhe está destinada no museu, onde terá também uma atividade para os mais pequenos, para lhes mostrar como os vírus se transmitem de pessoa para pessoa e que cuidados se devem ter para o evitar, e um jogo de computador interativo onde se consegue pôr uma epidemia em marcha.
"Vou mostrar também como se faz uma cultura de células e como se consegue aumentar a quantidade de material genético num tubo de ensaio para o podermos estudar", conta a investigadora, que embora se estreie hoje na Noite Europeia dos Investigadores, já tem experiência de atividades atividades deste tipo e de contacto com o público no âmbito de atividades idênticas no IGC. "É importante divulgar o trabalho que fazemos para que as pessoas o conheçam e compreendam a sua importância para toda a sociedade".
Ao contrário de Sílvia Costa, João Seco, professor e investigador da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT/UNL), na área da engenharia informática, é um repetente nestas noites europeias de festa da ciência.
Esta será a sua terceira participação, durante a qual vai mostrar, juntamente com outros colegas do centro de investigação Nova-Lincs, dedicado às ciências computacionais, um conjunto de projetos projetos que prometem entusiasmar e desafiar o público que hoje procurar a sua banca no claustro do MUHNAC.
Um deles conta com um painel multimédia que permite navegar com um simples toque através de livros e iluminuras antigas e aceder às suas traduções. "Este foi um trabalho que fizemos em colaboração com colegas da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da nossa universidade e que coloca à disposição do público textos e iluminuras antigos, que foram digitalizados e traduzidos para português moderno, e que de outra maneira não seriam acessíveis, porque os livros são raros e não podem ser manuseados", explica João Seco.
Mas há mais. Num outro painel, as pessoas poderão ver as imagens de uma exposição feita em Lisboa, em 1957, pela Gulbenkian, que na época foi um marco e que, agora toda digitalizada, passa a estar sempre acessível, à distância de um clique, e num outro ainda, no mapa da cidade de Lisboa, poderão consultar a localização de todos os conventos que já existiram na capital.
"É a nossa ligação ao tema da ciência na cidade, articulado com a ideia do património", explica João Seco. De resto, outros centros da FCT/UNL de Lisboa - uma das parceiras do consórcio liderado pelo MUHNAC e a Universidade de Lisboa que organiza a iniciativa - estarão presentes muitas outras demonstrações e experiências, que vão da química ao ambiente, da biologia às tecnologias.
Para João Seco, esta é uma noite imperdível. "Da minha experiência, é muito importante estar lá e falar com as pessoas, responder à sua curiosidade, ver como se entusiasmam e aderem. Quando isso acontece, há sempre qualquer coisa que passa".