HMB: "Sentimo-nos muito abençoados com o que já conseguimos"
Que significado têm estes concertos? Dez anos já é muita estrada...
Héber Marques (H.M.) - Sim, especialmente porque começámos a tocar sem qualquer tipo de pretensão, mas apenas e só porque gostávamos muito de música. Começámos nos bares, depois vencemos alguns concursos de bandas, no fundo fizemos o percurso normal, subindo a pulso neste meio, apenas porque as pessoas gostam de nos ouvir.
Reza a lenda que vocês venciam todos os concursos em que participavam.
Joel Silva (J.S.) - Na verdade perdemos um, mas para a banda do Fred e do Daniel, o que quer dizer que o prémio ficou mais ou menos em casa (risos).
Joel Xis (J.X.)- Sim, mas esse era um concurso de jazz e nós não somos uma banda de jazz.
Foi então para evitar futuras derrotas que os chamaram para a banda?
J.X. - Não, porque eles já estavam connosco, vencíamos de qualquer das formas (risos).
Nesse período já tocavam originais?
H.M. - Sim, inicialmente cantávamos em inglês, mas depressa percebemos que se queríamos sobressair teríamos de o fazer em português. Na altura dos bares tocávamos muitas versões, mas lá pelo meio lá íamos metendo alguns originais nossos, que as pessoas já iam conhecendo. Foi um período de crescimento, que nos deu muita experiência ao vivo, em palcos pequenos.
E quando é que dão o salto para os palcos maiores?
H.M. - Depois de gravarmos o primeiro disco, em 2012.
Fred Martinho (F.M.)- O nosso primeiro grande concerto foi em Coimbra, durante a Queima das Fitas, onde fomos apresentados como os novos New Kids on the Block e fomos expulsos do palco pouco tempo depois de termos começado, porque havia um problema qualquer no som, que nos obrigou a interromper o concerto. Foi mesmo para percebermos como era este meio(risos).
H.M. - Tem sido um percurso incrível, uma autêntica montanha russa, com altos e baixos, é certo, porque isto não é sempre a subir, mas a verdade é que aqui estamos, já com dez anos de carreira e muitos mais para virem, espero.
Quando vocês começaram, e à exceção talvez dos Expensive Soul, este estilo de soul e r&b cantado em português não era muito comum...
H.M. - Sim, era estranho de ouvir, mas ainda bem que apostámos nisso.
Daniel Lima (D.L.)- Acho que esse é que é o segredo do nosso sucesso.
H.M. - Sim e sem estarmos aqui sem falsas modéstias, as canções também eram boas, muito orelhudas e com letras com as quais as pessoas se identificavam, o que é meio caminho andado.
E com os Expensive Soul há algum tipo de rivalidade?
H.M. - Nenhuma, muito pelo contrário, somos muito amigos. Só podia ser assim, porque hasteamos a mesma bandeira musical e é muito bom perceber que existe esse sentimento de irmandade entre nós.
E entretanto há o fenómeno chamado O Amor É Assim, o dueto com Carminho, que se transforma num dos maiores sucessos dos últimos anos em Portugal.
H.M. - De tudo o que nos aconteceu nestes dez anos, isso foi o que menos poderíamos prever. A canção já exista há algum tempo e até já tínhamos tentado fazer um dueto com outras pessoas, que nunca se concretizaram.
E como é que surge a Carminho?
J.S. - Foi depois de a termos conhecido, por acaso, no backstage das Festas do Mar, em Cascais, onde atuámos no mesmo dia. Percebemos logo que a Carminho era a pessoa ideal para o fazer.
H.M. - Foi numa noite em que até lá estava o atual presidente da República, temos até um vídeo dele a dançar no nosso concerto (risos).
J.S. - Fomos falar com o agente dela que lhe vendeu a coisa como "os HMB fizeram uma música para ti", o que não era bem verdade, mas pronto, acabou por correr muito bem. Nunca pensámos que isto acontecesse, hoje O Amor É Assim é uma música como vida própria e até já muito maior que nós.
D.L. - O mais engraçado é que até mesmo entre nós houve algumas discussões, se deveríamos ou não lançar o single, porque havia quem pensasse que era muito arriscado e podia não resultar.
Há cerca de dois anos, fizeram uma digressão por diversos países africanos, como foi essa experiência?
J.X. - Fomos a convite do Instituto Camões, numa iniciativa de promoção da língua e cultura portuguesa. Fomos a Africa do Sul, Zimbabué, Namíbia, Botswana e Moçambique, que era o único país onde se falava português, mas foi precisamente isso que tornou esta experiência tão rica, especialmente a nível musical. Permitiu perceber que a música é mesmo uma linguagem universal e quando se gosta não interessa se percebemos ou não as palavras. Lembro-me de um concerto no Botswana em que o público invadiu o palco a dançar, o que foi incrível...
E como vai ser agora este espetáculo de aniversário?
H.M. - Vamos tocar músicas que habitualmente não tocamos, ter momentos mais intimistas com o público, para lhes mostrar as canções e a minha voz de uma forma mais despida. Vamos também mudar alguns arranjos e ter alguns convidados de quem gostamos muito. A Carminho, que curiosamente apenas cantou connosco um par de vezes, o Virgul, com quem tocámos no Rock in Rio Brasil, o DJ Ride, que já é um colaborador antigo da banda...
D.L. - Acima de tudo vai ser uma grande celebração, porque ao olharmos para trás sentimo-nos muito abençoados com o que já conseguimos.