Título: 'Hitchcock'. Realização: Sacha Gervasi. Com: Anthony Hopkins, Hellen Mirren, Scarlett Johansson, James D'Arcy. Distribuição: Big Picture. Classificação: 3 / 5. Sinopse: Assustados com o teor mais violento do livro de Ed Bloch que Alfred Hitchcock queria levar ao grande ecrã, os executivos do estúdio recusam-se em financiar o projeto. O realizador e a mulher hipotecam a casa e avançam para a rodagem cientes de que um mau resultado de bilheteira os possa arruinar...O filme de Sacha Gervasi sobre Alfred Hitchcock, com Anthony Hopkins no papel central, parte de um pressuposto televisivo, típico de produções como A Dama de Ferro (2011), em que Meryl Streep compunha a figura de Margaret Thatcher: a sobrecarga de "semelhanças" entre ator e personagem constituiria uma espécie de "ganho" artístico e histórico. Ora, mesmo sem menosprezarmos o know-how clássico de Hopkins, essa é a dimensão menos importante do filme. Como pouco importante e, sobretudo, redundante parece ser o facto de Gervasi insistir em "visualizar" o fascínio do realizador pela figura de Ed Gein, o serial killer que serviu de ponto de partida ao romance de Robert Bloch, a partir do qual Hitchcock faria o seu Psico. .Se Hitchcock consegue escapar ao convencionalismo de tais matrizes, isso deve-se à consciência aguda de que o cinema pressupõe um labor específico que vai desde as ideias mais abstratas até à necessidade de lidar com matérias muito concretas como são os atores, os cenários, as peças do guarda-roupa, etc. .Nesta perspetiva, o filme de Gervasi contraria a visão pitoresca, de raiz televisiva, do próprio trabalho cinematográfico. Não por acaso, um dos seus trunfos está no elenco de atores que, inevitavelmente, estão a interpretar... atores: Scarlett Johansson (recriando Janet Leigh), Jessica Biel (Vera Miles) e, sobretudo, James D'Arcy (Anthony Perkins) conseguem colocar em cena o misto de incerteza e vulnerabilidade que as tarefas de interpretação podem envolver. E isso não deixa de ser uma ironia que importa valorizar: sendo Hitchcock muitas vezes apresentado como um criador com uma visão meramente instrumental dos seus atores, este filme propõe uma bela dúvida metódica sobre a sua "indiferença" humana.