Histórias de beleza e decadência cantadas por Ute Lemper

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Ute Lemper é uma mãe de família dedicada, mulher apaixonada pela vida em família que, há mais de dez anos, leva em Nova Iorque. Ao mesmo tempo, é o símbolo de uma época passada, que recupera em disco e encarna em palco. É a partir da sua casa, "espécie de refúgio" como gosta de lembrar, que nos fala do espectáculo que traz a Portugal: hoje na Casa da Música, no Porto (22.00), amanhã no Teatro das Figuras, em Faro (21.30), e no domingo em Lisboa, no CCB (21.00).

Do outro lado do telefone, confessa ao DN a paixão pelo público, enquanto dá a atenção possível aos assuntos domésticos: "Nem sempre é fácil ser diva e mãe ao mesmo tempo. Mas sei que seria incapaz de deixar de ser qualquer uma delas." Aproveita as diferentes realidades para se reinventar enquanto artista, sabendo que as múltiplas faces que já mostrou não lhe são suficientes: do cabaret alemão às canções de Gershwin, da escrita de Kurt Weill aos tributos a nomes tão influentes como Marlene Dietrich ou Edith Piaf. Ute Lemper finaliza agora um novo álbum, feito de originais seus, a editar em breve: "Cantar a obra de grandes compositores é uma paixão porque representa um constante desafio. Mas poder exprimir a minha própria criatividade é inegavelmente muito especial."

Nas três noites que actua em Portugal, vai apresentar uma revisão de carreira, uma homenagem às canções que interpreta há mais de 20 anos. "Nunca soube muito bem qual era o meu caminho artístico, até que descobri que era possível juntar a dança, a interpretação e a música num mesmo formato. Até hoje tento desempenhar em palco esse papel múltiplo. Como um vício, talvez." Uma contínua busca artística que não termina nas canções. Ute Lemper construiu a sua criatividade também em volta do cinema - "uma janela feita de fantasia, de sonhos e ilusões", diz-nos - e da pintura: "Pintar é como escrever uma canção, um libertar de angústias e um descobrir de respostas."

Ute Lemper reconhece que construiu uma imagem de que é difícil dissociar-se, mas encontra aí personalidade artística. "De vamp, como alguns me chamam, tenho pouco", confessa, preferindo assumir-se como "símbolo de um sentido feminino acertivo". Encontra na história alemã ("que também é a minha", assegura) motivos de orgulho e vergonha, que merecem "ser cantados da mesma forma". Entre Paris e Nova Iorque descobriu "tempos modernos" que não a afastam de uma paixão pelo burlesco, por fumo de balcão e copo cheio: "Por vezes vejo-me como uma versão feminina de Tom Waits, cantando a beleza e a decadência do Homem. E é fascinante!"|

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