Hillary e Trump preparam exército de advogados para pós-dia 8

Os dois candidatos têm equipas judiciais que vão monitorizar a votação e estão prontas para contestar o resultado das presidenciais.
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A noite de 7 de novembro de 2000 começou com as principais cadeias de televisão americanas a dar a vitória ao democrata Al Gore na Florida. Depois recuaram e deram o estado para o republicano George W. Bush. Antes de recuar de novo. Seria assim, de avanços e recuos, que se fariam os 36 dias seguintes, com as autoridades da Florida a contar e recontar os votos até o Supremo Tribunal ordenar o fim do processo, garantindo a vitória para Bush, com mais 537 votos do que Gore. O republicano levou os 25 votos da Florida no Colégio Eleitoral e garantiu assim a Casa Branca, mesmo tendo tido menos meio milhão de votos populares em todo o país do que o rival. Gore acabou por aceitar a derrota "em nome da unidade" do país.

O caso de 2000 até inspirou um filme - Recount (20008), com Kevin Spacey - mas passados 16 anos, tanto Hillary Clinton como Donald Trump parecem estar a preparar-se para uma batalha judicial pós-eleitoral tão ou mais dura do que a que opôs Bush e Gore. Segundo a Bloomberg, tanto a candidata democrata como o rival republicano têm a postos um verdadeiro exército de advogados que irão não só escrutinar a votação de dia 8, como se estarão a preparar para contestar os resultados dos estados onde o resultado seja mais próximo.

De acordo com a agência de notícias económica, Hillary está a desenvolver um programa de proteção ao eleitor centrado nos estados determinantes, que conta com a colaboração de milhares de advogados, que aceitaram dispensar algum do seu tempo e da sua experiência para a campanha da democrata. A ex-primeira dama quer ter observadores presentes na Florida, Carolina do Norte, Pensilvânia, Ohio, New Hampshire, Iowa, Nevada e Arizona. Estes terão como tarefa monitorizar o processo eleitoral e dar conta de potenciais atos de intimidação aos eleitores.

Do lado de Trump, a Associação Nacional de Advogados Republicanos tem mais de mil membros a preparados para monitorizar as assembleias de voto e, se for caso disso, contestar os resultados em certos estados determinantes. Robert Mercer, gestor de fundos de investimento e fervoroso apoiante de Donald Trump, até injetou 500 mil dólares neste grupo - naquela que foi uma das maiores doações das últimas quatro presidenciais, segundo a Bloomberg.

Contestação de ambos os lados

Até há dias, a possibilidade de os resultados eleitorais serem contestados prendia-se sobretudo com as afirmações de Trump de que se perder poderá não reconhecer a derrota. O candidato republicano denunciou ainda a hipótese de haver "fraude" no dia 8. Mas desde que o diretor do FBI, James Comey, decidiu abrir nova investigação a um novo conjunto de emails enviados pela então secretária de Estado Hillary Clinton do seu servidor privado, as sondagens mostram como a vantagem da democrata desapareceu.

As últimas sondagens nacionais dão um empate entre os candidatos - 44% das intenções de voto para cada um, segundo o estudo IBD/TIPP - ou colocam mesmo Trump à frente de Hillary - como a pesquisa do USC para o Los Angeles Times que dá 48% das intenções de voto ao candidato republicano e 42% à rival democrata.

Mas todos sabem que as sondagens nacionais pouco ou nada interessam nas eleições americanas. Por isso, nestes dias finais antes da votação os candidatos têm concentrado esforços nos chamados swing states, aqueles estados que tanto pendem para os democratas como para os republicanos, acabando por ser decisivos para determinar o vencedor. Ontem a CNN publicava sondagens no Arizona, Florida, Nevada e Pensilvânia, mostrando como a distância entre os dois candidatos está no mínimo dos mínimos. Um exemplo? Na Florida, fundamental para conquistar a Casa Branca e onde Hillary chegou a ter uma vantagem confortável, a ex-primeira dama surge apenas dois pontos percentuais à frente do rival republicano - 49% contra 47%.

Este novo cenário trouxe novos receios: que a própria Hillary Clinton, se perder, recuse admitir a derrota e exija recontagens em vários estados. "Se a perceção se confirmar e a votação for muito próxima, então é provável que os candidatos - de ambos os lados - dirão: "bom, temos mesmo de garantir que cada voto é escrutinado"", explicou à Bloomberg Edward Foley, responsável pelo programa de direito eleitoral na universidade do Ohio.

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Daí ambos estarem a rodear-se de um exército de advogados, antecipando uma batalha judicial que pode deixar a América e o mundo sem saber que será o sucessor de Barack Obama durante algum tempo.

Naquela que é já considerada uma das campanhas presidenciais mais feias de sempre nos EUA, Trump não se inibiu de em pleno debate com a rival democrata, ameaçar mandá-la para a prisão, caso seja ele o próximo presidente. "Lock her up!" (qualquer coisa como "Engavetem-na!", em português) tornou-se num dos gritos mais ouvidos nos comícios do milionário republicano. Em meados de outubro, Trump alargava a ameaça aos advogados da adversária. "A empresa dela de advogados, que é uma empresa grande e poderosa, os seus membros também têm de ir para a prisão", exclamava o milionário num comício na Florida. Palavras duras, que mais tarde o seu candidato a vice-presidente, Mike Pence, veio desvalorizar, enquanto alguns apoiantes do republicano garantiram que estava a brincar.

Tradicionalmente, quando o candidato assume a derrota, está a ajudar o país a aceitar o resultado de umas eleições. Mas na verdade a sua opinião conta pouco ou nada. O que vale "é o resultado das contagens - ok, e das recontagens, se for caso disso. Nas horas seguintes à eleição, cada estado divulga um voto não oficial, que se oficializa depois de um exame pós-eleitoral confirmar a sua veracidade. Com este resultado final, é determinada a representação no Colégio Eleitoral, que se reúne a 19 de dezembro. A 6 de janeiro, o Congresso aceita a escolha dos grandes eleitores e declara o presidente eleito - este toma posse a 20 do mesmo mês.

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