Herói português na novela da Globo leva Açores até ao Brasil

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Há quatro décadas, no tempo da TV Tupi, o argumentista Walther Negrão e o então actor e hoje director Dennis Carvalho fizeram o António Maria em televisão, com o actor brasileiro Sérgio Cardoso. Ao fim da tarde de segunda-feira, nos estúdios da Globo, no Rio de Janeiro, Negrão e Dennis Carvalho juntaram-se para apresentar o que ambos dizem ser «um António Maria moderno»: Trata-se de Como uma Onda, a próxima novela das seis da estação brasileira; uma história desenhada para um público adolescente na qual o protagonista principal é o actor português Ricardo Pereira.

«Pela primeira vez um actor estangeiro está protagonizando uma novela brasileira», disse Dennis Carvalho a este jornal. Ricardo Pereira é Daniel Cascaes, «um cavalheiro europeu que cai no Brasil», nas palavras de Walther Negrão, «que se apaixona, se vê metido em enrascadas e consegue sempre ganhar». Ricardo Pereira define o seu papel como o de «um herói positivo» e espera que a sua prestação e o personagem que interpreta «ajudem a mudar a imagem do português no Brasil», ainda presa ao mito do emigrante, sempre saudoso da «santa terrinha».

A história de Como uma Onda - título que eventualmente evoca a canção de Nelly Furtado para o Euro 2004 e que substituíu o «nome de guerra» Açores - é contemporânea e sem pretensões: «uma comédia romântica muito gostosa, bem brasileira», segundo Dennis Carvalho, «uma novela de praia com uma trama de amor», segundo Walther Negrão, em que Ricardo Pereira contracena com a deslumbrante Alinne Moraes e, na parte da história filmada no norte de Portugal, com Joana Solnado, outra presença portuguesa nesta história, a par de outros actores, como António Reis.

Walther Negrão e Dennis Carvalho não pouparam elogios ao trabalho da estrela «importada». Ambos tinham receio dessa opção. «Era perigoso dar o protagonista a um actor estrangeiro, o que nunca tinha acontecido na Globo», disse o director de Como uma Onda. «Sempre quis um protagonista internacional e a maneira mais lógica de o fazer é com um actor português que não tem a dificuldade da adaptação e funciona lá como cá», afirmou o guionista.

Dennis elogia a capacidade de trabalho do actor: «O Ricardo se encaixou perfeitamente no papel. Ele virou um brasileiro sem perder as raízes, está correspondendo muito bem ao personagem . É talentoso, esforçado, inteligente e muito profissional. A novela vai ser um sucesso por causa desse personagem português».

Ricardo Pereira foi escolhido entre dez actores testados em Portugal. Para os dois principais responsáveis, a escolha foi imediata: «no teste ele faz de Carmen Miranda, um papel de travesti que aparece nos primeiros capítulos. É deslumbrante de despojamento, a maneira como ele fez isso, sem pudor e sem se preocupar com a imagem», disse Walther Negrão.

O excerto da história em que o actor está vestido à moda da actriz portuguesa estava inserido no clip de apresentação da novela. Um clip com a tónica das ruas de Guimarães e as personagens da «açoriana» cidade Florianópolis, o cenário da novela. No clip, porém, Ricardo Pereira nunca fala.

Falar o quê? O actor sintetiza e afirma que fala «um português abrasileirado», a meio caminho entre o português daqui e o português de lá. Um problema para quem representa mas também para quem escreve.

«Fiz um acordo com o Ricardo», diz Walther Negrão. «Escrever o português dele é meio complicado. É só um cuidado para eu não escrever coisas que os portugueses não dizem como o gerúndio. O Ricardo aprendeu a não apostrofar as palavras, para que o público o perceba. Já se habituou à musicalidade brasileira, sem perder a raiz portuguesa.»

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