Herói do Belenenses no Jamor vende cigarros eletrónicos

Juanico ajuda quem pretende deixar de fumar, quase três décadas, depois de ter ajudado os azuis do Restelo a conquistar a terceira Taça de Portugal, com um golo de livre ao Benfica
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Entre os adeptos do Belenenses, ninguém esquece aquela tarde de 28 de maio de 1989, sobretudo o golo da vitória por 2-1 sobre o Benfica, que valeu a conquista da terceira e última Taça de Portugal aos azuis do Restelo, ao minuto 81: na execução de um livre direto, Juanico encheu o pé direito e fez a bola embater na trave e entrar na baliza de Silvino. "Já tinha feito golos do género, mas este ainda hoje é falado", disse ao DN o autor da proeza, hoje com 59 anos.

Quase três décadas volvidas, o herói daquele dia já não está ligado à modalidade. "Fui jogador e treinador, mas a vida já não me permite estar ligado ao futebol, por motivos pessoais. Trabalho numa loja de cigarros eletrónicos em Guimarães", contou o antigo médio-defensivo, que depois de ter ajudado o clube de Belém a erguer aquele que ainda é o seu último troféu, ajuda quem pretende deixar de fumar. "O trabalho na loja é simples e tem funcionado. O cigarro eletrónico ajuda a deixar de fumar porque não deita cheiro, não deixa os dentes amarelos e é mais saudável em termos de respiração", afirmou o atual funcionário da Cigavapor.

A nova carreira, admite, não é necessariamente melhor ou pior do que a de futebolista, apenas "diferente". "Às vezes entram pessoas a perguntar se sou o Juanico, mas não é aquele convívio que existe no futebol, em que se conhece toda a gente e treinávamos para estar a 100% nos jogos. Já este trabalho exige responsabilidade, saber lidar com o cliente e estarmos bem documentados sobre o cigarro eletrónico, pois encontramos de tudo", explica, sobre o segundo emprego após ter pendurado as botas, depois de ter trabalhado num stand de automóveis "durante seis ou sete anos".

Quatro anos inesquecíveis

Juanico foi quem resolveu a final da Taça de 1989, mas não se considera um herói. "Fomos todos heróis, porque só com a vontade e humildade que tínhamos é que podíamos ganhar ao Benfica. O Jorge Martins [guarda-redes do Belenenses nesse jogo] fez uma exibição tremenda. Curiosamente, os autores dos golos, eu e o Chico Faria, fomos do Rio Ave para o Belenenses", lembrou, recordando a festa que se seguiu. "Não dá para explicar. Foi uma alegria tremenda, que só quem passa por ela é que pode explicar. No final desse jogo, tinha 14 pessoas à minha espera para jantar, mas o presidente do Belenenses [Mário Rosa Freire] marcou mesa num restaurante. Eu disse-lhe que não ia jantar com eles, porque tinham vindo pessoas do Norte para me ver jogar e estar comigo, mas o presidente disse para eu levar essas pessoas, e levei", afirmou, puxando a cassete atrás.

"Nos quatro anos em que estive no Belenenses, andámos sempre lá em cima", atirou, acerca de um clube que o marcou. "Vestir aquela camisola deu-me muitas alegrias e muitas coisas boas. Foram quatro anos acima da média. Tínhamos uma grande equipa e com grandes treinadores. Era uma equipa fabulosa, com alguns craques e homens que sabiam o que faziam em campo", recordou, nostálgico, com saudades do bastante bem-humorado Marinho Peres.

"Houve uma vez em que fomos 17 jogadores para estágio, numa altura em que só 16 entravam na ficha de jogo. O Carlos Ribeiro gostava bastante de batatas fritas, mas não podia comer antes dos jogos. Contudo, o Marinho Peres disse ao Carlos para comer batatas fritas à vontade porque ia para a bancada. Foi uma risota enorme", contou, acerca de um treinador com o qual tem muitas histórias. "Teríamos de estar só uma hora para falar do Marinho, mas também do Jaime e do Sobrinho", aditou, bem-disposto.

O que Juanico também não esquece são as jornadas europeias memoráveis, entre as quais a vitória sobre o Barcelona no Restelo, em 1987-88, e a eliminação do então detentor da Taça UEFA, o Bayer Leverkusen, em 1988-89. "Jogar em Camp Nou deixou saudades, foi algo fabuloso. O Barcelona tinha uma grande equipa, com Zubizarreta, Schuster e Lineker. Sofremos dois golos nos últimos minutos. No Restelo, tivemos a oportunidade de os eliminar. Marcámos um golo cedo, pelo Mapuata, e dispusemos de muitas ocasiões", recordou, acerca do duelo com os catalães. "Frente ao Leverkusen, o nosso treinador era o John Mortimore, que me marcou bastante. Taticamente era fabuloso, estudou muito bem o adversário e ganhámos por 1-0 na Alemanha, com golo do Mladenov, e em Belém, com golo do Adão", lembrou, entusiasmado.

Seleção e a mágoa vimaranense

Durante as quatro temporadas em que representou o Belenenses, Juanico conseguiu tornar-se internacional A, tendo atuado por uma vez de quinas ao peito. "Perdemos por 4-0 frente ao Brasil, no Maracanã. O Brasil tinha uma grande equipa, inaugurou o marcador pelo Bebeto e a seguir aconteceu o autogolo do Sobrinho. Mas foi uma grande sensação jogar por Portugal, ser titular e logo num estádio daqueles", recordou.

Se ter jogado pela seleção nacional foi um ponto alto na carreira, não ter vestido as cores do clube da terra foi a maior mágoa. "Percorri as camadas jovens todas do Vitória de Guimarães, tive uma semana à experiência na equipa principal, e era uma coisa que eu queria mas não consegui. Todos conhecem e falam do V. Guimarães. Houve uma oportunidade quando estava no Belenenses, mas acabei por ficar", lamentou.

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