Herdade no Tempo e a urgência de inspirar um mundo mais sustentável

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É inadiável pensar em soluções climáticas. A realidade que nos cerca de um ecossistema vulnerável está no topo da agenda mundial e coloca-nos num lugar de urgência que requer um conjunto de ações e medidas. A agricultura regenerativa constitui uma resposta realista face ao combate do aquecimento global e, por conseguinte, de um colapso ecológico para o qual avançamos inexoravelmente.

A redução drástica da biodiversidade na Terra atingiu o seu ponto de inflexão. Podemos, no entanto, interagir com a natureza sobre o tempo que ainda nos é válido.

Em 2015, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, alertou para o seguinte: "Temos apenas 60 anos de colheitas. E depois?"

Vejamos. Enquanto o planeta acelera em direção ao sobreaquecimento global, os sistemas convencionais de produção agrícola e o mau uso da terra arável degradam-se. O Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia estima que, a cada ano, desapareçam cerca de 36 bilhões de toneladas de solo. A verdade é que vivemos num Planeta que será sempre refém da resiliência climática.

Não deixa de haver aqui uma relação histórica com a teoria demográfica malthusiana, do economista inglês Thomas Malthus que, no Séc. XVIII, previu que a população mundial iria crescer a um ritmo tão acelerado que poderia superar a oferta de alimentos - havendo, assim, um esgotamento dos recursos naturais.

Qual é, então, a solução?

A agricultura regenerativa. Um sistema pautado por princípios e técnicas agrícolas que reabilita o ecossistema e desenvolve recursos naturais, em vez de esgotá-los.

A Herdade no Tempo, em Montemor-O-Novo, no Alentejo, responde à emergência climática com práticas biotécnicas para mitigar os efeitos do aquecimento global. Poder-se-á dizer que representa um modelo incorporado em métodos biológicos que são, ao mesmo tempo, o reflexo da inquietação de João Rodrigues, proprietário da herdade, face aos problemas ambientais. Ou seja, uma resposta consciente perante a necessidade de existir um posicionamento crítico e responsável em relação ao Planeta.

Falamos de um espaço regenerativo, de criação e de renovação. Um lugar que explora as transformações dinâmicas e orgânicas do ambiente e o seu impacto num futuro coletivo que coloca em contraciclo a destruição que a espécie humana tem vindo a causar, e que fere o planeta com gravidade.

A saúde do solo - com vista a um futuro vivo - é o grande objetivo da Herdade no Tempo.

Há aqui uma ideia que alude a um movimento de esperança e que vê na prática da agricultura regenerativa uma oportunidade monumental para mudar de rumo. Neste movimento, ressaltam os benefícios que existem na redução de carbono e na melhoria do ciclo da água.

Como?

Vamos ao processo de fotossíntese, em que as plantas convertem o dióxido de carbono em açúcares que entram no solo em forma de excrementos. Por sua vez, os microrganismos do solo - fungos e bactérias - que vivem junto das raízes das plantas, decompõem essas substâncias químicas produzindo nutrientes que favorecem o crescimento das plantas. É neste processo que está o equilíbrio dos níveis de carbono que resulta, depois, num solo mais saudável.

A Herdade no Tempo mostra-se a acompanhar a linguagem da própria natureza. Uma espécie de mundo perfeito a ser seguido pela compreensão das práticas de uma gestão holística.

Conceptualmente, poderá designar-se como um modelo dominante que abre espaço para que a natureza se revele, sem a necessidade de ser intervencionada pela indústria que restringe os seus ciclos e recursos naturais.

Desde modo, cruzamo-nos com a ideia "Back to Simplicity" e a perspetiva que toca um mundo melhor. Que se estabelece e firma numa conexão com o espaço no qual habitamos.

É neste tecido natural de verdes campos, lagos e riachos - despido de quaisquer artifícios - que são produzidos alimentos biológicos e estão também integrados grupos de gado bovino, ovino e caprino geridos sobre a forma de pastoreio holístico em que a sua rotatividade é feita periodicamente pelos cerca de 130 parques da herdade. Percebemos que aqui a natureza é fluida e eficaz. Simultaneamente magnífica quando lhe permitimos cumprir os seus desígnios.

Estas são algumas práticas que mostram a vida orgânica da Herdade no Tempo e que exploram um exemplo cénico real daquilo que poderá inspirar uma agricultura universal que contribua para um mundo mais sustentável.

Partimos, então, para uma solução que se impõe, a da agricultura regenerativa. Certamente caberá aos nossos políticos efetivar este modelo enquanto plano de combate à crise climática. Será, contudo, pertinente reservar necessária atenção à temática "Emergência Climática", convocar uma consciência coletiva, e formular um discurso que ambicione reverter o impacto devastador das alterações climáticas.

Objetivamente, importa chegar ao lugar onde o dever e a consciência ambiental se encontram. Só assim teremos um mundo melhor. Sim, é possível. Se quisermos. Porque o mundo é, afinal e também, o que fazemos com ele.

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