Herdade dos Machados era "uma pequena aldeia" quando foi ocupada em 1975

Com 6.001 hectares, a Herdade dos Machados, no Alentejo, hoje um dos últimos bastiões da Reforma Agrária, era "uma pequena aldeia" quando foi ocupada por trabalhadores e expropriada e nacionalizada pelo Estado em 1975.
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\tNos tempos "conturbados" da Reforma Agrária, após a Revolução de 25 de Abril de 1974, a herdade era uma das maiores explorações agrícolas em Portugal e, por isso, "não podia ter fugido à regra", tendo sido ocupada por trabalhadores agrícolas a 19 de abril de 1975, conta à agência Lusa Jorge Tavares da Costa, diretor-geral da casa agrícola membro da família Santos Jorge, dona original da herdade.

\tNa altura, a herdade, situada no concelho de Moura, no distrito de Beja, era "uma pequena aldeia", onde a Casa Agrícola Santos Jorge criava 8.000 cabeças de gado e tinha o maior olival da Península Ibérica, com 1.500 hectares, um lagar, uma adega, armazéns de cereais, um posto médico e uma escola gratuita para os filhos dos trabalhadores.

\tA casa agrícola tinha cerca de 200 trabalhadores e três estabelecimentos comerciais em Lisboa, onde se vendiam produtos produzidos na herdade, como azeite, azeitonas, vinho, cereais, frutas e laticínios.

\tEm dezembro de 1975, oito meses após a ocupação, o Estado, por proposta do Conselho Regional da Reforma Agrária do Distrito de Beja, expropriou e nacionalizou a herdade e, através de várias comissões administrativas, geriu os estabelecimentos em Lisboa até 1979 e a propriedade até 1980.

\tSegundo o empresário, em 1980, o então primeiro-ministro Sá Carneiro "fez uma reforma agrária à sua maneira" e o Estado deixou a gestão da herdade e dividiu-a em cerca de 200 parcelas, que distribuiu por trabalhadores.

\tOs trabalhadores ficaram rendeiros do Estado, que se tornou um "indevido senhorio" da herdade, diz, contando que, após a distribuição das parcelas, os donos, "como que uma sobra", conseguiram recuperar 490 hectares.

\tDos 6.101 hectares da herdade, cerca de 4.100 já foram recuperados pelos antigos donos e através de acordos feitos com rendeiros e "muito à custa" de parcerias entre a Casa Agrícola Santos Jorge e duas empresas espanholas, que, juntas, exploram as terras recuperadas.

\tDos restantes, cerca de 1.700 hectares continuam a ser exploradas por 45 rendeiros do Estado e cerca de 300 já foram alvo de acordos com os rendeiros e os antigos donos aguardam os despachos que lhes devolverão a posse das terras.

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