Herbie Hancock e Chick Corea, os paralelos das mãos de ouro
Estes dois filhos da II Guerra Mundial - que, em boa verdade, ainda não tinha envolvido a América que os viu nascer com 14 meses de intervalo - poderiam muito bem nunca ter partilhado uma sala de concerto ou um estúdio de gravação.
Felizmente para os amantes da música, jazz mas muito mais do que isso, os egos sucumbiram à curiosidade e à ideia de que essa reunião significaria a existência de frutos. Por outras palavras, o tempo e a música desfizeram quaisquer ressentimentos que pudesse deixar raízes pelo facto de o mais velho - Herbie Hancock, nascido a 12 de abril de 1940 - ter sido substituído pelo mais novo - Chick Corea, que veio ao mundo a 12 de junho de 1941 - num dos grandes desafios que lhes foi lançado ainda na fase de afirmação da carreira: eles foram, um atrás do outro, pianistas ao serviço do génio dos génios (até no mau génio), o trompetista Miles Davis.
Alegadamente, o homem que já tinha escrito a banda sonora de Blow Up, filme de Michelangelo Antonioni, regressou "atrasado" da lua-de-mel no Rio de Janeiro, em setembro de 1968, na sequência do casamento com Gigi Hancock.
De nada adiantaram as suas explicações que apontavam uma intoxicação alimentar como causa do incumprimento. Miles já tinha recrutado outro pianista em alta, sobretudo depois da recente edição do disco Now He Sings, Now He Sobs, há muito tempo olhado como um clássico. Corea rendia Hancock num posto que nenhum músico em ascensão sonharia desprezar.