Henry Worsley. A grande aventura solitária na Antártida
Ernest Henry Shackleton nunca a conseguiu completar. A sua Expedição Endurance, preparada para realizar a primeira travessia terrestre da Antártida, abortou de forma inglória ainda antes de começar, quando o navio que a transportava ficou preso no gelo e se afundou, a 21 de novembro de 1915, deixando 28 homens à deriva durante vários meses.
A forma como conseguiu liderar a sobrevivência do grupo durante quase dois anos elevou o explorador britânico à condição de herói, mas a tão ambicionada travessia ficaria para sempre incompleta na vida de Sir Ernest Shackleton, que morreria pouco depois, em 1922, de ataque cardíaco, quando tentava uma nova expedição ao continente gelado.
[destaque: São 1700 km de costa a costa, com passagem pelo Polo Sul]
Um século depois, a Antártida já foi atravessada de uma costa à outra várias vezes, por diversas expedições - a primeira em 1958, pelo também britânico Vivian Fuchs, apoiado por Edmund Hillary, o conquistador do Evereste, e utilizando tratores de neve. Mas nunca da forma como o britânico Henry Worsley, de 55 anos, o está a tentar fazer agora.
Para assinalar o centenário do naufrágio da expedição de Sir Ernest Shackleton, este antigo oficial do Exército britânico iniciou no passado dia 14 de novembro uma aventura que tenta ficar para a história como a primeira travessia solitária e sem qualquer assistência do continente que rodeia o Polo Sul.
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O fascínio que Worsley diz alimentar desde criança pela chamada Idade do Ouro da exploração antártica - o período do início do século XX e dos grandes exploradores de então (Robert Scott, Roald Amundsen, Shackleton...) - tem uma justificação familiar: Frank Worsley, o capitão do Endurance que transportava a expedição de Ernest Shackleton, era um "parente afastado", revela.
Agora, depois de ter participado já em duas expedições polares anteriores, o ex-militar britânico propõe-se então a completar uma inédita aventura solitária de travessia da Antártida, de uma costa à outra, com passagem pelo Polo Sul. Uma longa jornada de mais de 1700 km, em condições extremas (podem chegar aos -30º) e sem qualquer tipo de ajudas ao longo dos 80 dias que é estimado durar.
"Em 1997, o norueguês Børge Ousland conseguiu fazê-lo, mas teve a ajuda de um kite para puxar o trenó", aponta Henry Worsley. Aqui não: é só ele a puxar cerca de 150 kg com mantimentos, tenda e outros equipamentos. A expedição chama-se Shackleton Solo, em homenagem ao explorador do início do século passado, e pode ser acompanhada online em shackletonsolo.org, onde Worsley vai atualizando as peripécias da aventura.
O britânico, que leva um GPS para o caso de ter de ser resgatado, espera ainda com esta iniciativa angariar 100 mil libras para o Endeavour Fund, de apoio a ex-militares britânicos feridos em serviço