Helsínquia 1952 - As Olimpíadas TV

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Guerra Fria. A pequena Finlândia acolheu uns Jogos que promoveram a estreia do grande império soviético nas Olimpíadas. Em clima de guerra fria na geopolítica mundial entre as duas superpotências, Estados Unidos da América e URSS digladiaram-se pelo domínio das medalhas. Um duelo assistido por todo o mundo a preto e branco, pela televisão

Não cumprida uma década sobre o fim da II Guerra Mundial, o mundo continuava a alimentar as suas guerras particulares. No pleno da Guerra Fria, a União Soviética e os Estados Unidos da América mediam forças na balança do globo, equilibrando o socialismo e o capitalismo. A preto e branco, o mundo via-se cada vez mais no pequeno ecrã. Foi a década da grande expansão da televisão, que deixou em dificuldades a indústria da Sétima Arte, que, no entanto, acabou por saber encontrar soluções para a sobrevivência e para o seu desenvolvimento imparável. Era o momento de a Europa formar as suas grandes alianças, como a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, génese do que viria a ser a Comunidade Económica Europeia, depois Comunidade Europeia, agora União Europeia. Em plena Guerra da Coreia, os Estados Unidos conseguem evitar um conflito directo com a China do eterno Mao- -Tsé-Tung, caminhando perigosamente para a Guerra do Vietname, em 1960, em que viria a conhecer o maior amargo de boca da sua história bélica. Fosse como fosse, pela primeira vez na história dos Jogos Olímpicos, Estados Unidos da América e União Soviética teriam o seu primeiro confronto directo, com Estaline em estado de saúde débil. Ou seja, pela primeira vez a União Soviética ia participar no maior evento desportivo do planeta, depois de ter estado, em 1948, nos Jogos Olímpicos de Londres, com estatuto de observador.

E já que está a falar de fazer história, o Comité Olímpico Internacional achou por bem atribuir a organização destes Jogos Olímpicos de 1952 a uma cidade estreante nestas andanças: Helsínquia. Houve quem não gostasse desta nomeação da Finlândia para organizar uns Jogos, sobretudo por se tratar de um país minúsculo, que portanto não fazia jus à grandeza que se queria para os Jogos Olímpicos. Porém, se a Finlândia era um país pequeno, em matéria de prestações desportivas, a história recente provava que era, sim, um gigante, respeitado por todos em matéria de olimpismo. Foi aqui exactamente que o Comité Olímpico Internacional encontrou o seu argumento mais forte para atribuir à capital finlandesa a organização destas Olimpíadas.

A ex-URSS tinha preparado os seus atletas para estes Jogos Olímpicos como se fossem os últimos das suas vidas, quando era precisamente o contrário. E a verdade é que a União Soviética irrompeu como um trovão no olimpismo, denunciando um período de hegemonia que se preparava para conquistar anos mais tarde ao seu rival americano. Não foi, por isso, de estranhar que conquistasse o segundo lugar no ranking das medalhas, só superada pelos Estados Unidos da América, que mais uma vez dominaram os Jogos, embora com uma sombra chamada URSS a pairar sobre o seu sucesso.

Estes Jogos de Helsínquia tiveram o recorde dos recordes em matéria de participação, o que desde logo se revelou um verdadeiro sucesso organizativo, conseguindo trazer à capital finlandesa 5867 atletas, o que só enriquecia o espírito olímpico, como mais tarde afirmaram os responsáveis do Comité Olímpico Internacional.

Quanto a Portugal, o Comité Olímpico Português fez em Helsínquia a sua maior aposta de sempre até à data, enviando 71 atletas para competir em nove modalidades. A viagem para Helsínquia foi carregada de pompa e circunstância, a bordo do elegante navio Serpa Pinto. A participação portuguesa viria só a confirmar a velha máxima que, quanto mais se sobe, maior é a queda. Uma medalha de bronze não chegou para cobrir tanta ambição do Estado Novo. Mais uma vez, foram os velejadores a salvar a honra - Francisco Andrade e Joaquim Fiúza, heróis do bronze, em representação da pátria dos marinheiros.|

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