Health.com Africa quer prevenir alcoolismo nos países lusófonos

Dados de primeiro inquérito nacional em São Tomé e Príncipe sobre consumo de bebidas alcoólicas, que mostra um problema de saúde pública, vão ser apresentados por investigadora portuguesa em Bruxelas, no Parlamento Europeu
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Cerca de 40% dos jovens entre os 15 e os 18 anos de São Tomé e Príncipe consomem bebidas alcoólicas em excesso, um padrão que acaba por refletir um hábito mais generalizado de consumo excessivo de álcool no país: nas faixas etárias acima dos 19 anos, essa taxa é superior aos 63%.

São dados do primeiro inquérito nacional sobre consumo de álcool e drogas - 1% dos jovens admite o consumo de substâncias ilícitas - realizado num país africano lusófono, que a autora do trabalho, Isabel de Santiago, investigadora do Instituto de Medicina Preventiva e Saúde Pública da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), apresenta amanhã no Parlamento Europeu, num workshop dedicado às questões da comunicação, saúde e juventude no espaço lusófono.

Realizado este primeiro estudo em São Tomé, a ideia, agora, é fazer "a prevenção e a educação para a saúde junto dos jovens e da população, e envolver também os outros países africanos lusófonos, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Angola e Moçambique", como explicou a investigadora ao DN. O projeto, que se chama Health.com Africa, está nesta altura em fase de angariação de fundos para ir para o terreno em força.

O estudo feito em São Tomé e Príncipe, em 2014, pôs a descoberto "uma situação grave em termos de saúde pública, a exigir ações concretas, nomeadamente junto dos jovens", diz Isabel de Santiago. Mas, como se não bastasse, em cima desse problema há um outro, que a mesma investigadora identificou, e que é o "da destilação local de bebidas, que muitas vezes é feita com baterias para acelerar o processo de destilação, o que representa um risco acrescido para a saúde pública por causa dos metais pesados que acabam por ficar na bebida", como explica.

"Trouxe em fevereiro algumas amostras dessas de São Tomé, que estão agora a ser analisadas, mas numa outra, que já tinha trazido em novembro, detetámos vestígios de níquel", conta a investigadora, que nasceu em São Tomé, de onde veio com 3 anos, e que já anteriormente ali fez trabalho em prevenção da saúde pública (ver caixa).

Se os hábitos de consumo de álcool e drogas em São Tomé são agora conhecidos, "em relação aos outros países africanos lusófonos a situação já não é assim, os únicos dados que existem são estatísticas da Organização Mundial da Saúde", sublinha a investigadora e professora convidada da FMUL. Fazer esse levantamento é, por isso, um dos objetivos do Health.com Africa, a que se seguirão as ações de prevenção no terreno, em cada um dos países.

Em São Tomé, essa segunda fase até já se iniciou. "Já fizemos algumas ações de formação com escoteiros, em escolas, com presidentes de câmara e com a associação para a proteção das tartarugas marinhas", conta Isabel de Santiago, que no próximo dia 10 de maio viaja de novo para São Tomé, para prosseguir os contactos com as autoridades locais e a população.

"Com estas ações queremos sensibilizar os jovens e a população em geral para a realidade deste consumo excessivo de álcool e para o problema de saúde pública que ele representa, e a partir daí vamos propor-lhes atividades lúdicas e desportivas", alternativas possíveis à sua própria realidade.

"Muitos destes jovens são vulneráveis e tenderão a consumir álcool em excesso, porque os pais já o fazem habitualmente, por isso queremos oferecer-lhes a possibilidade de através dessas atividades saírem um pouco desse ciclo familiar", adianta a investigadora.

Com o projeto a rolar em São Tomé, a iniciativa seguirá também para Cabo Verde, Angola e Moçambique, primeiro para o diagnóstico dos hábitos de consumo de álcool e drogas, e depois para ações de sensibilização e de prevenção junto dos jovens. Na Guiné-Bissau, o Health.com Africa assumirá outros contornos, para combater a mutilação genital feminina.

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