HCP quer registo obrigatório no turismo de saúde
Quantos ingleses se deslocam até ao Algarve para realizar a cirurgia da anca, aproveitando o bom tempo e a oferta hoteleira para um recobro que mais parecem férias? Quantos holandeses passam por Lisboa em tratamento de fertilidade e aproveitam para andar de elétrico e provar pastéis de Belém? E ingleses, quantos não aproveitarão uma visita ao Douro para colocar implantes dentários no Porto? Este é um negócio que valerá 94 milhões de euros, anualmente, para Portugal, tendo potencial para atingir mais de 400 milhões até 2020. Mas precisa de uma estratégia concertada e, hoje, não há números nem respostas rigorosas que amparem as decisões.
"Não há dados oficiais e as entidades [privadas] entendem que o segredo é a alma do negócio, por isso temos necessidade de avançar para um registo obrigatório dos doentes estrangeiros para podermos desenvolver o turismo de saúde em Portugal. Queremos saber de onde vêm os turistas, que tratamentos procuram, quanto tempo ficam e quanto gastam", adiantou Joaquim Cunha, diretor do Health Cluster Portugal, ao DN/Dinheiro Vivo, à margem de um workshop realizado no Palácio da Bolsa, no Porto.
Para conseguir essa informação, o HCP está a negociar com as administrações regionais de Saúde a criação de um registo mensal obrigatório que permita a obtenção de dados sobre o número de turistas que se deslocam ao nosso país para obter tratamentos médicos, preventivos ou reativos. Criado em 2008, com a missão de desenvolver um nicho valioso que junta o turismo e a saúde e que cresce cerca de 10% ao ano na Europa, o HCP concluiu, no ano passado, o documento estratégico do projeto Healthy"n Portugal, uma parceria com a Associação Empresarial de Portugal, que estima que podemos captar, por ano, mais de 94 milhões de euros de receitas até 2020 com o tratamento de pacientes europeus e dos Países Africanos de língua oficial portuguesa. Para chegar a tais valores, é preciso que os hospitais e clínicas, as termas, os hotéis e os restaurantes, as agências de viagens, as seguradoras e os prescritores adiram à rede que projetará a imagem externa do projeto, nomeadamente integrando o portal www.medicaltourisminportugal.com.
"Sem dados quantitativos, não conseguimos saber se este segmento está a crescer, se estamos no bom caminho, se devemos fazer correções", explicou Joaquim Cunha. "Mas tem sido muito difícil chegar aos números, o setor da saúde privada é muito sigiloso e, como não tem tido necessidade de se promover, não tem colaborado tanto quanto seria necessário a este nível. E fazem mal porque estão a realizar grandes investimentos em infraestruturas e, mais tarde, podem precisar desta oportunidade", lamentou.
Para chegar aos números de negócio potencial deste nicho, as entidades têm recorrido a estudos de benchmark apoiados nas informações reunidas por outros países europeus. Sabe-se, assim, que o volume de negócios do turismo de saúde, só na Europa, está avaliado em mais de 2,7 mil milhões de euros, sendo os destinos mais fortes a República Checa, a França e a Turquia, cada qual beneficiando de mais de 315 milhões de euros de receitas anuais. Os principais países emissores são França (38,67%), Alemanha (35,09%), Reino Unido (9,18%) e Suécia (6,23%).