Harry Potter
Quando a inglesa J. K. Rowling concebeu pela primeira vez a história do seu aprendiz de feiticeiro (numa viagem de comboio para Londres, em 1990) estava longe de imaginar que Harry Potter iria conquistar o mundo e ascender ao estatuto de figura pública. Mas foi isso mesmo que aconteceu. A magia pagou um preço elevado. O feiticeiro adolescente tornou-se famoso, com direito a aparições envoltas em secretismo e tudo. E hoje, dia em que o sexto livro de Rowling é lançado nos escaparates de todo o mundo a partir da meia-noite, o que fica na memória é essencialmente a segurança apertada que, do princípio ao fim, rodeou este Harry Potter and the Half-Blood Prince.
"Temos sido extremamente cuidadosos para não haver a mínima possibilidade de o livro ser revelado antes de tempo", explica Laura Porco, uma das responsáveis de venda da Amazon.com, desvendando a política de segredo que pautou o funcionamento da maior livraria online até ao Dia P (de Potter, pois claro!) livros guardados numa área restrita, com senha especial de acesso e vigilância de guardas que passavam em revista os funcionários à saída do local; entrega dos Half-Blood Prince (ainda não foi encontrada a versão portuguesa do título) só a partir de hoje nas lojas que, no passado, desrespeitaram a data de lançamento oficial; e um convite aos media para assistirem à operação de embalagem, embarque e distribuição dos livros.
E porque o segredo é a alma do negócio em se tratando do fenómeno "potteriano", também a editora norte-americana Scholastic Inc. alinhou pelo mesmo diapasão, apostando sobretudo no contacto directo com as grandes livrarias e lojas particulares para que não divulgassem a obra antes das 24.00 de hoje. "A autora queria que todos os jovens tivessem acesso ao livro e o lessem ao mesmo tempo", justifica Barbara Marcus, responsável pela literatura juvenil da Scholastic, considerando que tudo foi feito nesse sentido. Agora, conforma-se, "é mesmo uma questão de cruzar os dedos" e esperar que tudo corra conforme o previsto. Para garantir que a magia acontece por igual nos quatro cantos do mundo. Para evitar que um deslize idêntico ao que deixou o Canadá em polvorosa se repita.
odisseia. Apesar da segurança rígida que mantém os segredos mais íntimos de Harry Potter and the Half-Blood Prince longe dos olhares indiscretos dos fãs, o sistema não é totalmente à prova de fugas de informação. Em Vancôver, por exemplo, 14 exemplares foram vendidos a semana passada pela Raincoast Books Ltd. (a editora responsável pela distribuição do livro de Rowling no Canadá), desencadeando de urgência uma ordem judicial capaz de travar a crise que se adivinhava. Proibidos de divulgar a trama, os compradores ficaram ainda obrigados a devolver todos os exemplares, em troca de um autógrafo da autora.
Em Nova Iorque, Sylum Mastropaolo, de nove anos e um admirador das aventuras do feiticeiro, também conseguiu comprar o sexto livro, à venda por engano numa loja da cidade. Os pais acabaram por devolver o exemplar à Scholastic depois de o filho ter lido apenas as primeiras páginas. "Não queremos estragar o gozo às outras crianças, nem a experiência de leitura colectiva", adiantou o casal. Ao garoto, enquanto a tão desejada meia-noite não chega, resta o consolo de ter sido o único da sua idade a ter a fantasia nas mãos. Mesmo que por tão pouco tempo.
singular. Ainda não teve a sorte de passar os olhos pelo Half-Blood Prince, como Sylum Mastropaolo, mas outro momento de prazer aguarda Owen Jones esta noite. Escolhido entre milhares de concorrentes do Reino Unido após ter respondido acertadamente a uma série de perguntas sobre as personagens nascidas da pena de J. K. Rowling, o jovem inglês de 14 anos faz hoje a única entrevista televisiva - a ser transmitida no canal britânico ITV1 no próximo domin-go - que a escritora tenciona dar a propósito do sexto volume.
Saber "se a vida de Harry Potter é uma espécie de fantasia da sua infância e, obviamente, o que é que vai acontecer no próximo livro" são questões obrigatórias para Owen, cujo desempenho em matéria de conhecimento "potteriano" serviu de passaporte perfeito para este momento de glória junto da escritora. E às expectativas em relação ao livro juntam-se agora, naturalmente, as que dizem respeito à entrevista. Afinal, é "só" o mundo inteiro que aguarda o diálogo entre Owen e Rowling, de olhos colados ao pequeno ecrã.
crítica(s). O frenesim intensifica-se à medida que as horas passam, encurtando uma espera que se desdobra em tantas quantos os leitores e as dúvidas que cada um se coloca. O facto de a única versão disponível, para já, ser a inglesa - a tradução em português está prevista "apenas para finais de Outubro", de acordo com as informações avançadas ao DN pela Editoral Presença -, não parece impedimento à vontade que os fãs têm de mergulhar de cabeça num enredo que A Ordem da Fénix deixou em aberto.
Todos querem saber o nome da personagem que morre neste livro (uma das figuras mais aponta-das é Severus Snape), quem será o novo capitão da equipa de Quidditch dos Gryffindor, o que terá visto Dudley quando olhou para os Dementors, que circunstâncias estiveram envolvidas no nascimento de Voldemort... Todos, menos o Papa Bento XVI, que vê na obra de J. K. Rowling uma forma subliminar de seduzir os jovens, "distorcendo-lhes a cristandade e a alma" antes que elas possam desenvolver-se. Segundo palavras atribuídas a Bento XVI pela escritora alemã Gabriele Kuby no seu livro Harry Potter o bem e o mal, o Papa ter-lhe-á agradecido (em 2003, quando ainda era o cardeal Joseph Ratzinger) a cópia de uma crítica sua à obra de Rowling. "É bom que nos ilumines acerca de Harry Potter", escreveu numa carta. É a prova de que ninguém fica indiferente à fantasia...
1990
O jovem Harry Potter começa a ganhar forma na cabeça da escritora, mas fica por aí. Seriam precisos mais cinco anos para crescer no papel, na companhia dos inseparáveis Ron e Hermione, e iniciar uma escalada de sucesso que começou com A Pedra Filosofal e não mais parou. Até hoje.
1998 a 2003
Aclamada pela crítica, lida por várias gerações de fãs em todo o mundo, J. K. Rowling continua a dar vida à existência difícil do jovem feiticeiro. E a magia volta a acontecer em A Câmara dos Segredos (1998), O Prisioneiro de Azkaban (1999) e Harry Potter e o Cálice de Fogo (2000), que conseguiu uma tiragem inicial de um milhão de exemplares e bateu todos os recordes pelo número de livros vendidos logo no primeiro dia. Em 2003, depois de toda a polémica gerada em torno de uma acusação de plágio, é publicado o quinto livro, Harry Potter e a Ordem da Fénix. Adaptados para o cinema, os livros estiveram ainda na origem dos filmes que mantiveram os nomes portugueses (nas versões dobradas) e estrangeiros (nas versões originais) A Pedra Filosofal estreou-se em 2001, A Câmara dos Segredos em 2002 e O Prisioneiro de Azkaban em 2004.
2005
Marca o lançamento do sexto e último livro até à data, Harry Potter and the Half-Blood Prince, e a chegada às salas de cinema do filme O Cálice de Fogo, cuja estreia está prevista para 24 de Novembro.