Veterana em três missões do vaivém espacial Discovery nas décadas de 1980 e 1990, Kathryn Dwyer Sullivan, geóloga, astronauta da NASA, veio a participar em 1990 na missão de lançamento do Telescópio Espacial Hubble. Também fora das fronteiras do planeta Terra, Kathryn conquistou outro feito: em 1984, tornou-se a primeira norte-americana a realizar uma atividade extraveícular na órbita do nosso planeta, por mais de três horas. Trinta e seis anos volvidos, em 2020, a astronauta, então com 68 anos, alcançou um limite terrestre. A bordo do submarino DSV Limiting Factor, Sullivan desceu os perto de 11 Km que distam entre a superfície das águas do Pacífico e a Depressão Challenger, o ponto mais profundo dos oceanos, localizado na Fossa das Marianas, a leste das ilhas com a mesma designação..A também oceanógrafa, nomeada Subsecretária do Comércio para os Oceanos e a Atmosfera na presidência de Barack Obama, reclamou nos idos de 1981 um lugar pioneiro para a ciência no feminino. Kathryn Dwyer esteve entre as primeiras mulheres admitidas como membro do Explorers Club, entidade com sede em Nova Iorque, fundada em 1904, ponto de encontro entre exploradores e cientistas, avessa a franquear os seus salões à presença de mulheres..Uma oposição ao reconhecimento do papel das mulheres nas explorações com fins científicos e sua inclusão em associações profissionais que mereceu uma reação em 1925. Duas décadas após a criação do Explorers Club, quatro mulheres praticantes da geografia, exploração terrestre, antropologia, entre outras áreas da ciência, fundaram a Society of Woman Geographers (SWG), entidade ainda hoje no ativo, mantendo os seus objetivos fundadores: "Comunidade internacional que apoia mulheres que superam fronteiras, incentivo à investigação e exploração, proporcionando oportunidades para a partilha de ideias e promoção do intercâmbio intelectual." Gerturde Emerson Sen, especialista em assuntos asiáticos; Marguerite Elton Harrison, repórter, cineasta e espiã norte-americana na Alemanha da I Guerra Mundial; Blair Niles, romancista e viajante e a escritora Gertrude Mathews Shelby, formaram o quarteto criador da SWG. Nas décadas seguintes, figuras como a antropóloga Margaret Mead, a política e ativista Eleanor Roosevelt e a pioneira da aviação Amelia Mary Earhart, viriam a engrossar as fileiras da Associação. Como sua primeira presidente esteve aquela que foi tida como uma das maiores viajantes do século XX norte-americano, Harriet Chalmers Adams..Nascida na Califórnia em 1875, Harriet viu-se desobrigada de uma educação formal em instituições de ensino, a favor de tutores particulares. Cedo, a jovem Harriet empreendeu explorações estivais com o pai, Alexander Chalmers. A aventura levou-os à travessia a cavalo da Serra Nevada, na Califórnia. Harriet tinha então oito anos. Com 14 anos, as explorações fora de portas alargavam os horizontes da dupla pai e filha, ao percorrerem o México. Nas décadas seguintes, o planisfério pessoal da jovem californiana cresceria para abarcar o mundo. Exploradora, escritora e fotógrafa, Harriet encontrou no marido, Franklin Pierce Adams, com quem se casou em 1899, o parceiro de viagens às Américas, Ásia, Europa e África. Na aurora de um século XX frugal de transportes e vias de comunicação, a exploradora andarilhou perto de 160 mil Km, muitos deles a expensas próprias. Harriet e Franklin dispensaram a compra de uma casa, a favor de um quarto numa pensão, canalizavam todos os rendimentos para as suas viagens. Em 1904, lançam-se na primeira grande exploração conjunta e visitam todos os países da América do Sul. Três anos, 65 mil Km a cavalo, canoa, a pé e de comboio que Harriet sumariou numa palestra na National Geographic Society. Nos 30 anos seguintes, a exploradora manteria uma colaboração com a revista National Geographic..No início da década de 1910, Harriet reconstituiu o trilho das descobertas de Cristóvão Colombo nas Américas, para atravessar Cuba e o Haiti a cavalo. Prólogo para a etapa seguinte, a viagem rumo às ex-colónias espanholas na América do Sul e as implicações sociais, económicas, culturais subjacentes à colonização. Hong Kong, Xangai, Filipinas, Mongólia, Sibéria, Sumatra, Havai, Japão preencheriam os dias de Harriet nos anos de 1913 e 1914. A cada regresso, a viajante cativava uma assistência crescente. A combinação de uma personalidade carismática, empenho, conhecimento e a utilização de recursos visuais como a fotografia colorida e o filme, conquistavam a imprensa e públicos. Harriet discutia temas como o impacto da ferrovia transandina nas economias locais ou as razões para o domínio da Argentina nas exportações agrícolas mundiais..Em 1916, a Grande Guerra castigava solo europeu há dois anos. Harriet, ao serviço da revista Harper´s Magazine, foi a única jornalista com permissão para visitar e fotografar a vida nas trincheiras na Bélgica. Ao longo de três meses, na frente de batalha e na retaguarda, a repórter visitou, entre outras estruturas, hospitais de campanha e fábricas de munições..No seu país natal, Harriet percorreu grande número de comunidades indígenas, lançando a discussão sobre as semelhanças e as diferenças linguísticas e culturais entre tribos da América do Norte e do Sul. De permeio, a viajante assistiu, em 1930, à coroação como imperador da Etiópia de Haile Selassie, num périplo que incluiu visitas a Gibraltar, Espanha, França, Itália, Egito e Iraque. Harriet morreu em Nice, França, em 1937, aos 61 anos. Para a posteridade legou dezenas de artigos e um espólio de milhares de fotografias. Não chegou a escrever o livro de viagens a que se propunha. Faltou-lhe tempo na impaciente vida que percorreu..Jornalista, escritora e ativista social norte-americana Mary Boyle O"Reilly, nascida em 1873, tornou-se correspondente no estrangeiro ao serviço da Newspaper Enterprise Association, primeiro no México e na Rússia, mais tarde em Londres. Com o deflagrar da I Guerra Mundial, O"Reilly foi enviada como repórter para a Bélgica. Disfarçada de camponesa, a jornalista franqueou as linhas alemãs. Nos anos seguintes, Mary Boyle viajou para França, Rússia Lituânia e Polónia, com relatos da guerra na Frente Oriental em jornais norte-americanos como o Boston Daily Globe e o Seattle Star. Regressou aos Estados Unidos antes da entrada do seu país no conflito mundial.. dnot@dn.pt