Hamilton devolve medalha de ouro olímpica por doping

O norte-americano Tyler Hamilton lançou nova bomba no ciclismo ao admitir publicamente que usou doping ao longo da carreira, que esta era uma prática corrente na maioria do pelotão e que viu o seu compatriota Lance Armstrong, recordista de sete vitórias consecutivas na Volta à França, injectar eritropoietina (EPO). Depois das declarações polémicas, o ex-ciclista devolveu a medalha de ouro que conquistou no contra-relógio dos Jogos Olímpicos de Atenas 2004.
Publicado a
Atualizado a

"Confirmo que Tyler Hamilton entregou a sua medalha de ouro dos Jogos de Atenas à USADA [Agencia Antidoping dos EUA] e que ele continuará a trabalhar com o COI [Comité Olímpico Internacional] e com o USOC [Comité Olímpico dos EUA] no âmbito dos últimos desenvolvimentos do nosso inquérito", afirmou à AFP o presidente da USADA, Tyler Hamilton.

Este gesto e a confissão de Hamilton, ao programa 60 Minutos da CBS, poderão abrir caminho à anulação dos seus resultados e a uma alteração da classificação do contra-relógio de Atenas 2004, pois as infracções por dopagem só prescrevem ao fim de oito anos. O russo Viatcheslav Ekimov, que foi colega de Hamilton e Armstrong na US Postal, poderá vir a tornar-se no novo campeão. O norte-americano Bobby Julich poderá ser o novo vice-campeão e o australiano Michael Rogers medalha de bronze.

Isso mesmo confirmou o organismo máximo do desporto olímpico à AFP: "O COI tomou nota da confissão de Tyler Hamilton e irá estudar evidentemente as eventuais implicações que esta confissão poderá ter relativamente aos Jogos Olímpicos." Ou seja, poderá cumprir-se ao fim de sete anos, e por iniciativa do ciclista, aquilo que não foi possível fazer logo na altura dos Jogos Olímpicos. A Hamilton foi detectada uma transfusão com sangue de um dador quando uma das suas amostras foi submetida a análises mais aprofundadas, mas, como os exames iniciais nada revelaram, o laboratório de Atenas congelara a amostra B.

Um erro que inviabilizou a realização da contra-análise, permitindo ao norte-americano ficar com o título olímpico, mas que não serviu de aviso, já que, semanas depois, na Volta à Espanha, Hamilton foi apanhado e desta vez não houve erro laboratorial. O ciclista desculpou-se com uma quimera: um irmão gémeo que morrera no útero e que fora absorvido pelo seu corpo e daí a existência de duas populações de glóbulos vermelhos diferentes no seu sangue. A defesa não colheu e foi suspenso dois anos. Em 2009 deixou em definitivo o ciclismo, depois de ter acusado DHEA (dehidroepiandrosterona), um esteróide anabolizante, num controlo.

Inquérito à US Postal prossegue

Deixou a modalidade mas não foi irradiado, como prevêem os regulamentos (foi punido com oito anos). Isto porque Hamilton decidiu colaborar com a USADA e outras autoridades federais dos EUA nas investigações ao doping no ciclismo, nomeadamente a Armstrong e às práticas na antiga US Postal, incluindo a suspeita de fraude por utilização de fundos públicos do patrocinador (a US Postal é uma empresa de correios pública) para pagar dopagem.

"O nosso inquérito ao ciclismo continua. Não vamos comentar o conteúdo do inquérito em curso e continuaremos determinados a proteger os direitos dos atletas limpos e em preservar a integridade do desporto", vincou Tygart. A investigação está a ser acompanhada por um grande júri federal de Los Angeles, perante o qual já testemunharam vários ex-colegas de Armstrong, incluindo Floyd Landis, o ciclista que perdeu a vitória no Tour 2006 por doping e cujas denúncias públicas deram origem à investigação ao texano há um ano.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt