Habitantes de Boa-Fé ouvem falar de ouro há décadas
"Real é a crise. Agora o ouro é uma 'miragem'", diz à Agência Lusa Baltazar Ramos, presidente da Junta de Freguesia de Nossa Senhora da Boa-Fé, no concelho de Évora.
Ainda assim, o autarca tem o sonho de que uma futura exploração de ouro, desde que acautelado "o bem-estar da população", dê aldeia o "brilho dourado" do mais nobre dos metais.
"Já houve pesquisas, há uns vinte e tal anos. Não sei se agora irá a sério. Talvez fosse bom, podia criar postos de trabalho", argumenta.
Dividido entre a esperança e o "esperar para ver" também está André Santos. Com 73 anos de vida, nunca "tropeçou" numa "pepita". O que colhe da terra são os alhos e os legumes da horta que cultiva.
"Eu já vejo tanta coisa. Um tipo chega-se a um ponto acredita em tudo", admite. Mas, até "ver" o ouro, não pode "fazer avaliações" e certezas só sobre a crise: "Essa continua a crescer".
Encaixada entre "cabeços" e montados da Serra do Monfurado, a Boa-Fé, assim como o Escoural, no concelho de Montemor-o-Novo, são há muito alvo de prospeções que confirmaram a existência de ouro no subsolo.
A extração industrial nunca chegou a concretizar-se, mas a situação pode mudar. Com a cotação em alta, a "corrida" ao ouro é agora mais "apetitosa".
Em novembro último, o Governo atribuiu a concessão experimental de ouro na Boa-Fé e no Escoural aos canadianos da Colt Resources, através de uma "joint-venture" com a Iberian Resources.
A empresa, que efetua perfurações na zona da Boa-Fé, já divulgou que estas demonstraram "a existência de um sistema mineralizado", com "alto teor" de ouro, "mesmo à superfície", com os resultados a "exceder expetativas".
"Estamos cada vez mais confiantes de que a exploração industrial é viável", afiançou à Lusa, já este mês, Nikolas Perrault, Chief Executive Officer (CEO) da Colt Resources, empresa que estima para 2014 o início da extração.
No campo, é fácil encontrar marcações em cimento, que indicam perfurações recentes e que coexistem, por vezes, com tubos enferrujados que afloram do chão, "resquícios" de prospeções de há décadas.
Aqui e ali, ouvem-se máquinas. São as sondas de perfuração a trabalhar e a extrair amostras do subsolo.
"Tanto que a gente trabalhou a arrancar mato naqueles 'cabeços' e nunca vimos nada que soubéssemos que era ouro", recorda, dos tempos de "moça nova", Maria Antónia Oliveira, 56 anos, funcionária de um minimercado e café.
Lembra-se de "sempre ouvir falar no ouro" e até em petróleo: "Uns que andaram aí uma vez disseram que estava uma mina de petróleo além, perto daquela padaria".
Agora, acredita que "os homens, com a continuação do tempo, alguma coisa hão-de descobrir".
"Deus queira que ainda seja antes de eu morrer", desabafa. Se assim não for, paciência. O que a "apoquenta" é a crise: "Chega a alguns dias de a gente querer comer e não o ter".