Há uma equipa de portugueses que vai ajudar os refugiados da Síria

Um fotógrafo português lançou um apelo no Facebook a pedir voluntários para uma missão humanitária no país e recebeu milhares de mensagens: "de bombeiros recebi centenas". Partem este mês com destino a um dos maiores campos de refugiados
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Miguel Baptista, um fotógrafo português de 46 anos, lançou o repto no Facebook: estava a caminho da Síria e perguntava se existiriam voluntários que o quisessem acompanhar numa missão humanitária. No dia seguinte, tinha milhares de respostas na caixa de correio eletrónico: não só havia quem quisesse ir, como lhe queriam pagar a viagem - o que recusou.

Mas foram as centenas de mensagens de bombeiros portugueses dispostos a partir para a Síria para "ajudar no que fosse preciso" que mais o emocionaram. Dias depois do apelo, a viagem está marcada: ele e mais quatro portugueses partem no dia 23 de março e vão ficar uma semana num dos maiores campos de refugiados sírios a tentar perceber "o que é mais urgente em termos de necessidades". A ideia é regressarem com mais ajuda.

A guerra na Síria dura há sete anos, mas no último mês os bombardeamentos em Ghouta oriental, um enclave dominado pelos rebeldes, foi descrita pelo Observatório Sírio dos Direitos Humanos como "uma guerra de extermínio", com centenas de crianças a perderem a vida durante os ataques.

E será este grupo, "o mais indefeso", que a equipa de portugueses, composta por Miguel Baptista, um médico, um professor, um enfermeiro e um bombeiro, vai ter como prioridade. Vão ficar num dos dois maiores campos de refugiados em Beirute, a capital do Líbano, que faz fronteira com a Síria - uma vez que entrar no país se tornou praticamente impossível, até para as equipas de ajuda humanitária.

O apelo de Miguel Batista foi publicado no dia 25 de fevereiro - já conta com quase 1500 partilhas - e era então apenas "uma ação de caráter individual". O fotógrafo era claro: "Não tenho logística para absolutamente nada, e não posso levar nada, além da minha vontade de fazer a diferença".

O objetivo do fotógrafo, que tinha estado, em 2016, num campo de refugiados na Jordânia - quis entrar na Síria, mas não conseguiu - era repetir o feito, mas desta vez ficar mais tempo e conseguir entrar na Síria, mas também tentar perceber as necessidades mais urgentes dos milhares de refugiados sírios. Em poucos dias, a sua "ação individual" passou a ser uma ação coletiva.

"Estou há dias e noites sem dormir só para poder responder às mensagens de milhares de pessoas que querem ajudar". Houve quem quisesse pagar a viagem do fotógrafo, quem ganhe o salário mínimo e ainda assim queira investir o seu pouco dinheiro numa viagem para poder ir também.

"Estou sem palavras", disse Miguel Baptista ao Diário de Notícias. A surpresa foi ainda maior quando confessa ter publicado o post, não só porque pretendia mesmo rumar à Síria - ou ao campo de refugiados mais próximo - mas também "para agitar as consciências para o que se está a passar no país".

"Fiquei comovido. Emocionaram-me muito as centenas de mensagens de bombeiros que querem ajudar, fazer alguma coisa. Não estava à espera desta corrente de solidariedade", disse o fotógrafo, que vive em Quarteira, no Algarve.

Foi por causa das "milhares de mensagens" que recebeu em resposta ao seu apelo que Miguel Baptista decidiu unir-se a uma associação portuguesa, a HUMANITAVE- Associação de emergência humanitária.

"Não tenho capacidade nem logística para lidar com um assunto tão delicado. Sendo assim tomei a liberdade de entregar esta iniciativa nas mãos de quem tem não só essa capacidade assim como a experiência de terreno nestas situações. Em conversa com HUMANITAVE decidimos que serão eles a organizar e a coordenar toda a ajuda e todo o processo desta intervenção na Síria", informou Miguel Baptista, também no Facebook, onde vai dando conta dos avanços da missão humanitária.

Esta primeira missão - Miguel Baptista quer voltar, depois, com ajuda - irá servir, principalmente, para "fazer uma triagem das necessidades e das quantidades, porque só podemos levar um contentor e são milhares de refugiados. A nossa prioridade serão as crianças", revela.

A equipa ficará no campo uma semana - o regresso está marcado para o dia 30 de março - e vai ficar instalada em tendas, que irão levar de Portugal.

Miguel Baptista deixa cá a filha de 14 anos e o filho, um bebé de cinco meses: "Não tenho medo e sei que os meus filhos terão orgulho em mim. Aliás, a minha filha foi a primeira a dar-me a maior força para eu ir, mesmo quando o plano inicial era partir sozinho", acrescentou o fotógrafo.

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