Há um presépio no MNAA a precisar da ajuda de todos para voltar a brilhar
O Museu Nacional de Arte Antiga vai lançar uma campanha de crowdfunding para reunir os 30 mil euros de que precisa para restaurar o Presépio dos Marqueses de Belas, um "objeto extraordinário". A data certa de lançamento desta subscrição pública ainda não está marcada - "talvez ainda neste mês", refere António Filipe Pimentel, diretor do Museu Nacional de Arte Antiga. "Não vamos fazer uma campanha tão sofisticada porque o montante da verba não o justifica", explica o responsável, comparando esta iniciativa com a lançada em outubro de 2016 com o objetivo de num prazo de seis meses reunir 600 mil euros para a compra da pintura A Adoração dos Magos do pintor português Domingos Sequeira.
"Mas vamos fazer uma série de operações mediáticas que vão dar que falar. Uma delas será já em fevereiro", revela, sem no entanto adiantar mais pormenores. O objetivo é até março/abril reunir os 30 mil euros para garantir o restauro, a iluminação e a valorização de "uma das últimas obras e a coroa de glória do escultor Joaquim José de Barros Laborão, o mais eficaz escultor da geração posterior a Machado de Castro" nas palavras de António Filipe Pimentel.
Apesar de a verba ser bem menor, esta é a solução encontrada pelo diretor do museu para avançar com o restauro, tendo em conta que o financiamento que o Museu Nacional de Arte Antiga recebe do Ministério da Cultura, via Orçamento do Estado, cerca de dois milhões de euros, é usado para garantir o funcionamento da instituição que em 2016 recebeu mais de 175 mil visitantes, sendo o segundo museu mais visitado dos que dependem diretamente da tutela.
Avançar com este restauro era um objetivo já tornado público em dezembro de 2015, quando o Museu de Arte Antiga inaugurou a Sala dos Presépios, que conta a história do presépio português desde o século XVI, com o resto arqueológico do Presépio de Carnide, até à viragem para o século XIX, precisamente com as obras do escultor Barros Laborão (1762-1820).
A par do processo de restauro - "sofisticado e complexo mas à partida não muito longo", afirma Pimentel -, será feito o estudo histórico da obra para esclarecer alguns dos enigmas que a rodeiam. A começar pelo nome: "Sabemos que nunca pertenceu aos marqueses de Belas. No entanto, é conhecido como Presépio dos Marqueses de Belas", diz Pimentel. Em frente à obra, com mais de três metros de altura e quatro de largura, o historiador de arte avança a tese até agora dominante: "Há uma lenda que diz que num destes grupos escultóricos eles estarão representados, porque eram considerados o casal mais bonito do Portugal de então. Sucede que estão também representados no Presépio de São Vicente de Fora, exposto na Sala dos Presépios, também uma obra do Barros Laborão. E sabe-se também que os Marqueses de Belas eram mecenas do escultor."
Certo, certo é que nunca pertenceu a D. José Luís de Vasconcelos e Sousa (1740-1812) e sua mulher, D. Maria Rita de Castelo Branco. Encomendado por José Joaquim de Castro, "um capitalista do século XVIII que faz parte de uma nova burguesia pombalina, entra no museu em 1937 por aquisição aos marqueses de Pombal, mais exatamente à marquesa de Pombal, descendente do encomendante da obra", conta o diretor do museu.
O restauro será feito sob a orientação do museu, numa equipa reforçada com elementos de fora, e deverá demorar entre três e quatro meses, incluindo a limpeza, consolidação e iluminação. "Mas nunca se sabe: há sempre surpresas nos processos de restauro", alerta.
Depois de restaurado, este exemplo de um presépio aristocrático, na transição do século XVIII para o XIX e, portanto, do gosto barroco para o neoclássico, vai ocupar um lugar central na antecâmara da Capela das Albertas, servindo dois propósitos: criar um momento de transição para a entrada na capela e "rematar o eixo interpretativo da Sala dos Presépios, permitindo perceber o que é a composição de um grande presépio desta natureza, que, na verdade, é um trabalho conjunto de uma série de pessoas com uma longa duração". Neste caso, "cerca de 20 anos" e, para além de Barros Laborão, nele trabalharam também os artistas Pedro Alexandrino de Carvalho (1729--1810), António Pinto (c. 1758-c. 1820) e ainda Joaquim António de Macedo (1750-1820).
No início do segundo semestre deve voltar a ser mostrado ao público, com uma exposição sobre o próprio presépio e as novas conclusões do restauro e da investigação científica, juntamente com outras obras de Barros Laborão.