"Há solos que desaparecem"
O que fazem aos solos incêndios com a dimensão dos que se viveram há uma semana?
Quanto maior a intensidade do incêndio, maiores serão as alterações que os solos podem sofrer do ponto de vista físico e químico. O que vem a seguir vai depender da quantidade e da intensidade da precipitação, que pode provocar problemas erosivos relativamente graves.
Como é que isso acontece?
Com o fogo, o solo sofre alterações na camada mais superficial e forma-se o que chamamos uma camada de repelência, que resiste à penetração da água. Em circunstâncias normais, a vegetação trava o embate da chuva. Depois do incêndio, ela embate diretamente no solo e como não penetra no solo, escorre também mais rapidamente. Ficando mais à superfície, tem maior capacidade erosiva. Aumenta a sua força viva e a capacidade erosiva.
Pode causar deslizamento de terras?
Esse é um processo um pouco diferente, mas há outros aspetos. Os sobrantes do incêndio, os troncos, os ramos queimados que ficam à superfície, muitas vezes são arrastados pela água das chuvas e essa vegetação, juntamente com o material mineral, acaba por aumentar a capacidade das correntes e dar um maior poder erosivo à chuva.
O solo fica mais pobre para poder ser reflorestado?
Por vezes os solos desaparecem completamente. Em grande parte das áreas florestais os solos são esqueléticos e acabam por ser levados. Mas as espécies das nossas florestas, como os pinheiros, são muito resistentes e aproveitam fraturas das rochas para lançar raízes. Mas, nas áreas onde o pinhal era jovem, não voltámos a ter pinheiros. É preciso que haja sementes, que só os pinheiros adultos têm. Se for pinhal jovem não tem essa capacidade. Essa é uma das razões por que em áreas que eram tradicionalmente de pinhal mas arderam duas e três vezes, não houve tempo para os pinheiros terem pinhas e sementes e por isso passámos a ter lá mato.