Há novidades no tratamento da escoliose do adolescente

Publicado a
Atualizado a

O Dia Internacional de Sensibilização para a Escoliose assinala-se a 24 de junho. Durante várias décadas, tratar cirurgicamente os adolescentes com deformidades da coluna era sinónimo de perda de mobilidade. Graças a cirurgiões portugueses há um tratamento inovador que permite voltar à atividade física em apenas dois meses, sem restrições.

A escoliose do adolescente é a deformidade mais frequente entre os jovens que ainda não atingiram a idade adulta e o final do crescimento. Caracteriza-se por uma curvatura anómala da coluna vertebral que, quando se localiza na dorsal, se traduz num alto nas costas, com um desnivelamento dos ombros. Quando se localiza na lombar, provoca uma assimetria dos flancos de cada lado do abdómen, dando muitas vezes a sensação, para quem olha de frente, de ter uma perna mais curta do que a outra.

O tratamento mais correcto e estandardizado da escoliose do adolescente é, sem dúvida, o uso de uma ortótese, um colete. Existem estudos que demonstram que o uso dos coletes é eficaz no tratamento das curvaturas da coluna vertebral até 45º. No entanto, para quem mais de perto lida com esta patologia em jovens destas idades, sabe bem o quanto é difícil usar um colete, no mínimo, 18 horas por dia, ou seja, na escola e fora dela.

Por esta razão, muitos adolescentes se recusam a usá-lo e alguns preferem mesmo a alternativa, que é o tratamento cirúrgico. No entanto, como qualquer cirurgia da coluna vertebral, este procedimento tem riscos e desvantagens: no caso do tratamento clássico, o mais utilizado em todo o mundo, nos últimos 40 anos, há um segmento da coluna que fica bloqueado e imóvel, prejudicando a mobilidade do jovem para as tarefas do dia-a-dia.

Desde os anos 60, nós, cirurgiões da coluna, temos procurado alternativas cirúrgicas que preservem o movimento da coluna dos adolescentes. Foi com base neste objetivo que, em Portugal, há dois anos, no Hospital CUF Descobertas, conseguimos descobrir uma técnica que tira partido do crescimento da coluna vertebral do adolescente para corrigir curvaturas localizadas na lombar, de uma forma progressiva, até ao fim do crescimento.

Com esta cirurgia, que é uma técnica menos invasiva do que a clássica, a perda de sangue é mínima e, ao fim de dois meses, podem retomar todas as actividades físicas, facto que é verdadeiramente inovador. Os riscos e as complicações são menores mas, no entanto, nem todas as escolioses podem ser corrigidas com recurso a esta cirurgia. Esta técnica inovadora serve apenas para o tratamento das curvaturas lombares com 40º a 60º, em jovens com idades compreendidas entre os 10 e os 14 anos.

Além de muito menos invasiva, esta cirurgia, que é inspirada num procedimento utilizado, nos anos 60, por mim e pelo cirurgião polaco Dr. Adam Gruca, permite a preservação do crescimento e da mobilidade da coluna, uma verdadeira novidade no tratamento das escolioses.

Para garantir os melhores resultados possíveis no tratamento das deformidades da coluna é, contudo, fundamental que o diagnóstico seja feito precocemente, numa fase inicial da doença. Para isso, os pais e os cuidadores devem manter-se atentos a eventuais assimetrias dos ombros e/ou das laterais do abdómen da criança ou adolescente e não hesitar em consultar um especialista em Ortopedia.

Jorge Mineiro
Ortopedista | Coordenador de Ortopedia no Hospital CUF Descobertas

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt