Há neurónios especiais no cérebro masculino para procurar sexo

A descoberta sugere que certos machos estão "programados" para preferir sexo a comida
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O verme Caernorhabditis elegans, também chamado apenas C. elegans, é um organismo muito simples - foi por isso que foi o primeiro animal multicelular cujo genoma foi totalmente sequenciado. Mas uma parte do C. elegans permanecia misteriosa: um par de células que tinham sido chamadas de Células Misteriosas no Macho. Agora sabe-se, porém, que essas células são neurónios que incentivam o macho a reproduzir-se - podendo mesmo fazê-lo favorecer o sexo acima da comida.

A necessidade destas células justifica-se em parte pela natureza do C. elegans. Existem vermes masculinos desta espécie, que produzem esperma, mas não existem vermes femininos - existem apenas vermes hermafroditas capazes de se reproduzir consigo próprios ou de serem fecundados pelos vermes masculinos. Por isso, porque os vermes hermafroditas não têm necessidade dos vermes masculinos, estes têm que ser muito insistentes para conseguirem inseminar os vermes hermafroditas e assim espalhar os seus genes e melhorar a diversidade genética da espécie.

Assim, o grupo de cientistas liderado por Arantza Barrios da University College London descobriu que as células cuja natureza permanecia misteriosa tinham um papel nesta faceta da vida dos machos C. elegans. Como estas existiam apenas nos machos, os investigadores concluíram que deveriam ter a ver com o comportamento sexual desses vermes.

Para o testar, usaram três tipos de vermes numa experiência: vermes hermafroditas, vermes machos normais, e vermes machos em que as células especiais tinham sido desativadas. Depois, colocaram os vermes num ambiente muito salgado, onde os faziam passar fome, para que associassem o ambiente salgado à fome. Isso fazia com que todos os vermes quisessem evitar ambientes salgados.

No entanto, quando os vermes eram colocados no ambiente salgado juntamente com companheiros sexuais disponíveis, os comportamentos tornavam-se diferentes. Os vermes passavam fome, mas também tinham oportunidade de se reproduzir, e o ambiente salgado ficava associado a ambas essas coisas.

Assim, os vermes machos sem as células especiais comportavam-se tal como os hermafroditas: queriam evitar os ambientes salgados para não passarem fome, independentemente das oportunidades de se reproduzirem. Mas os vermes machos com as células misteriosas iam a correr para os ambientes salgados, sem pensar na fome, em busca de companheiros para se reproduzirem.

Esta experiência permitiu aos cientistas concluir, no seu artigo publicado na quarta-feira na revista Nature, que essas células ajudam os machos C. elegans a pôr o acasalamento no cimo da lista de prioridades.

O C. elegans é um animal preferido de muitos cientistas que estudam biologia do desenvolvimento, devido ao seu pequeno tamanho, ao facto de o seu genoma se encontrar há muito sequenciado, ao seu ciclo vital curto e às poucas células que o compõem.

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