Há mais um banco espanhol a apostar no mercado português
Portugal tem sido um mercado de eleição para a banca espanhola. Agora foi o banco galego Abanca que fechou negócio com o Deutsche Bank para comprar a divisão de clientes particulares e banca privada que o banco alemão detém em Portugal. O valor da transação não foi revelado.
O Abanca, que foi comprado em 2013 pelo maior banco privado da Venezuela, diz que a operação lhe permite elevar o volume de negócios em 6500 milhões de euros. "A compra permite ao Abanca uma melhoria de 5% da margem de intermediação e um aumento de 20% em comissões."
A instituição financeira galega tem atualmente quatro balcões em Portugal, especializados em pequenas e médias empresas. Mas vai juntar-lhes as 41 agências daquela unidade de negócio do Deutsche Bank. A divisão de particulares do banco alemão tem cerca de 50 mil clientes, uma carteira de crédito de 2400 milhões de euros, depósitos de mil milhões e 3100 milhões de ativos sob gestão. A integração ficará concluída no primeiro semestre de 2019.
Apesar de se desfazer desta unidade de negócio, o banco alemão garantiu, numa nota publicada no seu site, que "continua firmemente comprometido com Portugal e continuará presente com as suas operações de banca de investimento, fornecendo serviços bancários a clientes empresariais, instituições financeiras, assim como a entidades governamentais". E as duas entidades financeiras "tencionam estudar uma potencial colaboração comercial para Portugal".
O Abanca é mais um banco de origem espanhola a reforçar no mercado português. Em 2016, o Bankinter entrou no setor nacional com a compra do negócio comercial do Barclays. O Santander e o CaixaBank também têm reforçado no país - o primeiro comprou o Banif e o Popular Portugal; os catalães do CaixaBank compraram o BPI.
Regresso a Portugal
O Abanca surgiu da reestruturação das cajas de ahorro em Espanha. É o sucessor da Caixa Galicia e da também galega Caixanova. A primeira entidade tinha tido investimentos em Portugal, não só através da operação bancária mas também com participações em empresa como a Galp e a Brisa. Com a crise no setor das cajas, essas participações foram vendidas. O funcionamento dessas caixas de aforro foi alterado, passando a ser donas de um banco, o NCG, que teve de ser resgatado pelo Fundo de Reestruturação Bancária espanhol.
Em 2013, o Estado espanhol vendeu esse banco, com o novo nome de Abanca, ao empresário venezuelano de origem espanhola Juan Escotet Rodríguez. É o dono do maior banco privado da Venezuela, o Banesco, e está na lista da Forbes dos 500 mais ricos do mundo. Venceu a corrida à compra a entidades como o BBVA, o Santander e o CaixaBank, pagando mais de mil milhões de euros. Escotet Rodríguez tem quase 87% do Abanca e é presidente do conselho de administração.
O banco de Escotet Rodríguez na Venezuela já foi alvo de ameaças de expropriação por parte do regime de Nicolás Maduro. Mas, segundo a imprensa espanhola, a cúpula dos negócios do banqueiro está centrada em Espanha, não existindo assim o risco de uma eventual expropriação levar o Abanca a ser controlado pelo Estado venezuelano. Desde que regressou a mãos privadas, o Abanca tem obtido resultados positivos. No ano passado, o banco teve lucros de 367,1 milhões de euros, mais 10% do que em 2016.