Há festa no Musicbox
Corria o mês de dezembro de 2006 quando abriu pela primeira vez as portas, com um espetáculo dos 1 Uik Pro-ject. O Musicbox, no Cais do Sodré, recuperava o espírito de locais míticos de Lisboa, como o Rock Rendez-Vous ou o Johnny Guitar, embora o objetivo fosse o de ser muito mais do que um clube de rock. "Queríamos fazer um clube como então não existia em Portugal. Um local onde o foco fosse a música, mas que estivesse também ligado a outras artes e manifestações culturais. Que ajudasse a não estar dependente de subsídios para fazer os mais variados eventos nas áreas de que gostamos", explica ao DN Gonçalo Riscado, um dos sócios da Cultural Trend Lisbon (CTL), a empresa proprietária do Musicbox e do bar-restaurante O Povo, no Cais do Sodré, em Lisboa.
Tudo começou numa normal incursão noturna pela zona, igual a tantas outras. "Um dia, numa passagem pelo Cais do Sodré de antigamente, onde ainda havia tiros e prostitutas na rua, reparei que o Texas Bar estava fechado e pensei que daria um grande local para fazer um clube. O dono era um senhor que tinha uma loja de pneus na Almirante Reis. Fomos lá falar com ele e disse-nos que sim, que estava interessado em vender o espaço. Foi assim que começou esta aventura", recorda Gonçalo, que já trabalhava na área dos eventos musicais e tinha também um estúdio, onde então estava a ser gravado o disco do Quinteto Tati, o primeiro da editora Transformadores, fundada por Alex Cortez, músico dos Rádio Macau e também sócio da CTL. "Sempre estivemos ligados à cultura, o Alex mais na música, e eu, depois de ter estudado cinema, sempre me interessei pela gestão cultural, algo quase desconhecido há dez anos." Juntaram-se então uma série de fatores que permitiram à dupla avançar: "O crédito bancário ainda era fácil de obter e o Cais do Sodré ainda não estava tão valorizado. Se fosse hoje era impossível."
Mudar o Cais do Sodré
Sem o saberem, estavam então a dar início a uma verdadeira revolução, que haveria de tornar o Cais do Sodré o novo centro da noite lisboeta. À época, e à exceção das históricas discotecas Tóquio e Jamaica, a hoje muito movimentada Rua Nova do Carvalho pouco mais tinha para oferecer a quem sai à noite, para além das prostitutas, alguns velhos bares de striptease e um ar de decadente marginalidade que afastava mais do que atraía. "Estamos ligados a essa mudança, mas não nos sentimos responsáveis por isso, porque mais cedo ou mais tarde, com ou sem Musicbox, ela iria acontecer. Mas começou connosco e é interessante que assim tenha sido. Ao abrir- mos portas, houve todo um novo público que começou a vir para cá. Passou a haver uma oferta diferente e isso ajudou na reabilitação da zona", sustenta Gonçalo, defendendo ainda que o Musicbox recuperou também "um lado mais alternativo" do Cais do Sodré, também ele há muito já desaparecido. "Isso sim, é interessante, porque essa reabilitação poderia ter começado logo numa vertente mais comercial."