Há 70 anos que não se descobria tão pouco petróleo

Oferta não deverá ser suficiente para responder à procura na próxima década
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Em 2015 foram descobertos 2,7 mil milhões de barris de petróleo, a quantidade mais baixa desde 1947, e um décimo da média anual registada desde 1960. Desde o início deste ano foram descobertos 736 milhões de barris, o que deixa antever, segundo os analistas, que em 2016 a quantidade de novas descobertas de ouro negro vai ser ainda mais baixa.

No seio da indústria alastram os receios sobre a capacidade do mercado em responder à procura e atacam-se os responsáveis. Apesar de o mercado estar em baixa, com o petróleo a cotar abaixo de 30 dólares em janeiro deste ano, os níveis de oferta continuam a bater recordes nos países da OPEP e na Rússia, porque os países preferem defender as quotas de mercado. "Em 2008, com o barril a 140 dólares transpirava-se confiança, e os países produtores contribuíam para o crescimento global. Com o preço do petróleo abaixo de 30 dólares por barril, assistimos a falências de empresas relacionadas com o setor energético e de mercados emergentes", explica José Lagarto, gestor de ativos da Orey Financial.

Face aos preços baixos da matéria-prima, o investimento na exploração em novas reservas caiu a pique em apenas dois anos. Em 2014 as empresas gastaram quase 90 mil milhões de euros para descobrir novos poços. Um montante que desceu para os 35 mil milhões em 2015. Neste ano a exploração vai representar 13% dos gastos da indústria, contra uma média de 18% nas últimas décadas.

Em agosto foram registadas perfurações em 209 poços de petróleo, quando em 2015 esse número ascendia a 680 poços. No ano anterior as petrolíferas exploraram 1167 poços, contra uma média que desde 1960 rondava os 1500.

Segundo as contas da consultora norueguesa Rystad Energy, as descobertas das petrolíferas estão a repor apenas um em cada 20 barris consumidos neste ano. Daqui a dez anos, segundo os analistas, esse défice vai refletir-se num substancial aumento do preço da matéria-prima. "Se daqui a dez anos a procura ultrapassar as expectativas para a produção, o valor do petróleo poderá ter uma grande subida", observa o analista da Orey.

O CEO da Shell prevê que as companhias vão ter de investir 893 biliões de euros por ano para acompanhar a procura. Uma meta praticamente impossível.

Com o preço atual do petróleo a rondar os 50 dólares, todas as expectativas do mercado estão depositadas na reunião da OPEP que decorre no fim de setembro, e onde os países vão tentar chegar a um acordo sobre o congelamento dos níveis de produção.

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