Há 450 mil pessoas em risco de vida na guerra civil síria

Privação de alimentos e cerco de localidades estão a ser usados como arma de guerra, acusa órgão da ONU.
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Acusações de repetidas violações do cessar-fogo na Síria, comentários sugerindo o seu iminente fim, e o aviso feito pelo alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra"ad Al Hussein, de estarem em risco de vida "450 mil pessoas cercadas em cidades e vilas - algumas delas há vários anos". Foram estes os factos mais relevantes ontem na longa guerra civil síria que vai entrar no seu sexto ano no próximo dia 15.

Falando na sessão de abertura da reunião anual do Conselho dos Direitos do Homem, em Genebra, Al Hussein explicou que privação forçada de alimentos e ausência de medicamentos são causa de um número indeterminado de mortes nos cinco anos que leva o conflito na Síria. Um número que pode conhecer um aumento significativo se o quase meio de milhão de cercados não for ajudado a curto prazo.

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O dirigente daquele organismo da ONU notou que "os alimentos, medicamentos e outros elementos de ajuda humanitária urgente são bloqueados de forma repetida. Assim, milhares de pessoas poderão acabar por morrer de fome". Para Al Hussein, o que está a suceder nesta matéria é a "privação deliberada de alimentos" utilizadas como "como arma de guerra. E por extensão, o cerco de localidades também o é".

Na tentativa de reduzir os efeitos da falta de alimentos, o coordenador das questões humanitárias da ONU na Síria, Yacoub el-Hillo, anunciou ontem o início de uma campanha de entregas a cerca de 150 mil pessoas em localidades sob cerco. As operações irão estender-se pelos próximos dias, em especial à cidade de Mouadamiya, na posse da oposição e cercada pelo regime.

Se o cessar-fogo se mantiver, Yacoub el-Hillo afirmou que poderão "ser ajudadas cerca de 1,7 milhões de pessoas encurraladas em áreas de difícil acesso". Este elemento da ONU, além da entrega de alimentos e medicamentos, estabeleceu como prioridade "as transferências por razões de saúde", que devem ter um caráter "incondicional". Isto é, abrangeram todas as pessoas, civis e combatentes, sem exceções.

Também a Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou ter pedido acesso às zonas de conflito "para encaminhar ajuda médica". Mas a representante da OMS na Síria, Elizabeth Hoff, notou que a maioria dos pedidos feitos a Damasco não são autorizados. "Em 2015, apresentámos 102 pedidos: 30 foram aprovados, 72 ficaram sem resposta", disse Hoff.

Quanto à situação no terreno esta é caracterizada de forma contraditória. Assim, o dirigente do grupo de negociadores da oposição às reuniões de Genebra, Asaad al-Zoubi, declarava à Reuters que o cessar-fogo - o primeiro desde o início do conflito - "não está a ser cumprido" pelas forças governamentais, uma posição secundada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Marc Ayrault. "Temos indicações de estarem a suceder ataques, inclusive aéreos, em zonas sob controlo da oposição moderada", disse Ayrault referindo os grupos não islamitas.

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Em contrapartida, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, indicou que o cessar-fogo estava "globalmente respeitado", encontrando-se em curso esforços para impedir o aumento das violações. Por seu turno, a ONG independente Observatório Sírios dos Direitos Humanos, que trabalha com uma vasta rede de contactos no terreno, reconhecia a continuação de combates e bombardeamentos, mas a uma escala muito menor do que antes do cessar-fogo.

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