Há quatro anos ninguém dava nada por Trump. Agora quer mais quatro

Na terça-feira, o presidente norte-americano deve anunciar a candidatura a um segundo mandato em Orlando, na Florida. Um cenário que pouco imaginavam possível quando o milionário entrou na corrida às presidenciais a 16 de junho de 2015.
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"Poucos esperavam que acontecesse", escrevia a BBC sobre a entrada de Donald Trump na corrida às presidenciais. Naquele dia 16 de junho de 2015, o milionário descia a escadaria dourada da sua Trump Tower em Nova Iorque para anunciar ao mundo que queria trocar a penthouse do arranha-céus na Quinta Avenida pela Casa Branca. À sua espera estava uma verdadeira multidão de jornalistas, cujos relatos oscilaram entre o desdém, a ironia e, alguma (pouca) fé naquele candidato invulgar.

"Porque é que ele não vai ganhar? Talvez uma das muitas razões seja o enorme monte de dinheiro, do tamanho da Trump Tower, que o espera se assinar para mais uma temporada do The Apprentice", garantia o The New York Times num texto assinado por Maggie Haberman. A jornalista destacava a promessa de Trump de "fazer a América grande outra vez" e sobre as hipóteses de o homem que já dera milhões a candidatos democratas mas então entrava na corrida à nomeação republicana vencer admitia: "Estamos desconcertados. E bem tentámos."

Veja aqui o discurso do anúncio de Trump:

No The Washington Post, Chris Cillizza, que agora está na CNN, descrevia o que se podia esperar de Trump como candidato: "Vai interromper, pressionar e procurar dominar o debate." E, olhando para um passado em que o milionário que seguiu as pegadas do pai no setor da construção já ameaçara por várias vezes entrar na corrida presidencial, Cillizza mostrava-se convencido de que "o género de coisas que ele diz quando assume o controlo do debate vai ter um forte apelo junto da base republicana e afasta, bem, quase todos os outros".

Se muitos duvidavam, outros davam uma oportunidade ao milionário. Era o caso do conservador Washington Examiner . Dias antes de Trump fazer o anúncio, Byron York escrevia que o milionário podia ter apelo junto de uma base republicana cansada dos políticos do sistema. "Já é claro há algum tempo que os eleitores conservadores estão insatisfeitos com o partido republicano." E garantia: "Se fizer uma campanha séria, Trump pode ganhar o apoio dos eleitores cansados. As suas preocupações não são uma brincadeira. Se Trump não lhes der resposta, alguém vai dar."

Para a FOX News, o canal preferido daquele que viria a tornar-se o presidente Trump, o candidato Trump "falava ao americano descontente". Num programa de análise moderado por Gregg Jarrett, o estratega republicano Adam Goodman explicava: "De certa forma ele está a enviar um sinal a muitos americanos que estão a lutar a dizer: 'Elejam-me e eu vou garantir que a marca América volta a estar no topo.' Uma 'mensagem bastante sexy', explicava Goodman.

Fora dos EUA, a candidatura de Trump atraía algumas atenções, sobretudo por envolver um milionário excêntrico numa corrida que muitos viam como estando em disputa entre Jeb Bush, o ex-governador da Florida, irmão e filho de presidentes, e o jovem Marco Rubio, senador de origem hispânica. Ora os hispânicos, sobretudo os mexicanos, estiveram no centro do discurso de candidatura de Trump, com o milionário a prometer construir o agora famoso muro na fronteira com o México para impedir a entrada de ilegais. E não hesitou em chamar "assassinos e violadores" aos mexicanos. Um discurso que o britânico The Guardian descreveu como "excêntrico", a mesma palavra usada pelo francês Le Monde .

Décimo segundo a anunciar a entrada na corrida à nomeação republicana, Trump foi eliminando todos os rivais até ser confirmado na convenção do partido. Em novembro de 2016 derrotava a rival democrata Hillary Clinton, apesar de ter tido menos três milhões de votos populares.

A dias de Trump anunciar a candidatura a um segundo mandato - no dia 18 em Orlando na Florida - a verdade é que a América e o mundo se habituaram a um novo estilo de liderança. Enganaram-se os que acharam que ia moderar o discurso quando chegasse à Sala Oval ou que deixaria de tweetar sobre todos os assuntos. Agora vem aí a corrida para 2020. Do lado democrata já há 23 candidatos. Trump para já só foi desafiado por William Weld, um ex-governador do Massachusetts libertário. Mas até novembro do próximo ano muito pode acontecer.

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