Guterres com Obama na véspera de novas prioridades dos EUA

Secretário-geral eleito da ONU pronto a trabalhar com Trump. Subsistem dúvidas sobre orientação da sua política externa.
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Barack Obama recebeu ontem na Sala Oval o secretário-geral eleito das Nações Unidas, António Guterres, que com esta deslocação a Washington encerrou a série de encontros com os dirigentes dos membros do Conselho de Segurança da organização: China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia.

No encontro, Obama expressou a "maior confiança" de que o antigo primeiro-ministro português consiga atuar de forma eficaz em problemas como a crise dos refugiados e as questões climáticas. Definindo Guterres como um "verdadeiro parceiro" e figura de "excelente reputação", considerou-o da "maior importância" para gerir os "crescentes desafios" da atualidade.

Do lado do ex-alto comissário da ONU para os refugiados, este salientou estar pronto a trabalhar não só com a Administração democrata cessante como "com a próxima Administração". O presidente eleito republicano, Donald Trump, toma posse a 20 de janeiro de 2017 enquanto Guterres assume funções no primeiro dia do próximo ano.

No quadro de transição entre os presidentes democrata e republicano têm-se levantado dúvidas sobre qual o caminho da política externa americana sob a administração de Trump. Destacam-se em particular os seus comentários sobre a responsabilidade dos EUA e de restantes aliados na Aliança Atlântica, dúvidas sobre como entende o envolvimento americano noutras partes do mundo e os compromissos internacionais assumidos, como o acordo nuclear com o Irão. Ou ainda o modo como os EUA devem atuar no quadro da ONU e, em especial, na defesa de mudanças no funcionamento da organização, que vêm sendo reivindicadas desde há muito tempo por diferentes Estados membros. Uma delas, a reforma do Conselho de Segurança, é vista como a mais importante e, igualmente, a mais difícil de concretizar. Ontem, Guterres não deixou de referir que as "reformas" são necessárias e importantes e que os EUA sempre foram um ator "ativo" na sua concretização.

A escolha da governadora da Carolina do Sul, Nikki Haley, de 44 anos, que fez o essencial da carreira política concentrada na Câmara dos Representantes deste estado e como sua governadora desde 2011, faz antever uma redução do papel dos EUA na ONU. Ontem, estava previsto um encontro de Trump com John Bolton, embaixador dos EUA na ONU entre 2005 e 2006, sob a presidência de George W. Bush, e acérrimo crítico da organização, que desde há muito classifica de "ineficiente" e "inoperacional". Bolton sustenta maior envolvimento dos EUA noutras organizações internacionais ou regionais para suprir as deficiências da ONU. Uma perspectiva que Trump subscreveu parcialmente na campanha. A pergunta é se há hipótese de o fazer.

E há, de facto, limites para o que a administração Trump pode fazer em política externa, como lembrou Obama logoa seguir à eleição do republicano. Trump pode criar novas prioridades e diferentes abordagens a questões atuais, mas não pode inverter a 180 graus toda a política externa americana. O número de centros de interesse da diplomacia dos EUA e os diferentes níveis em que estes se colocam - dependendo, como lembrou o presidente cessante, em primeira instância de um vasto aparelho político-administrativo que é transversal a diferentes departamentos do governo - impede uma mudança radical. Em política externa, as decisões tomadas "não resultam apenas da ação do presidente, resultam de uma série de interações, contactos e consultas entre as nossas forças armadas e as de outras nações, entre os nossos diplomatas e os de outras nações, entre os nossos serviços de informações" e de outras agências com os seus homólogos no resto do mundo, explicou então Obama.

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