Guiné-Bissau. Eleições marcadas pelo civismo e forte participação

Comissão eleitoral estima que 70% dos eleitores inscritos exerceram o seu direito de voto
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Os guineenses votaram este domingo. E, mais uma vez, as eleições legislativas decorreram de forma ordeira e com civismo, com a convicção que é desta vez que o país vai deixar para trás episódios como golpes de Estado e a luta fraticida entre as principais forças políticas para o controlo dos recursos económicos e financeiros de Estado. Entre os eleitores e os dirigentes políticos, a opinião é quase unânime: este domingo abriu-se um novo ciclo de mudança política e institucional.

Nas assembleias de votos e nos cafés não se fala de outra coisa que não seja de um dia histórico. Nas filas de assembleias de voto ouvia-se dizer que, finalmente, tinha chegado o dia de o povo poder fazer justiça eleitoral e pronunciar-se sobre as constantes crises que fustigam a pátria de Amílcar Cabral.

Assim, depois de dois adiamentos, finalmente os 761.676 eleitores guineenses foram chamados às urnas, quer no país e quer na diáspora, para elegerem os 102 deputados que compõem o seu parlamento. Às 07.00 a maioria já estava em filas nas assembleias de voto de Bissau para exercer os seus direitos cívicos. "É hora de votar para acabar com a instabilidade política governativa que o país atravessou nesta décima lesgislatura que agora termina", disse ao DN o jovem Marinando Nhanguan.

Este sentimento de satisfação e de mudança não é exclusivo dos jovens que querem que este escrutínio seja uma mudança de página na Guiné-Bissau. O próprio Presidente da República, José Mario Vaz, disse estar satisfeito e muito feliz com a concretização do processo eleitoral (os resultados são revelados na terça-feira).

"Estou muito feliz por ter estado na Presidência da Guiné-Bissau durante cinco anos em que ninguém foi perseguido, espancado, e em que não houve golpe de estado e a Guiné-Bissau se transformou em campeã da liberdade de expressão e de imprensa", explicou José Mário Vaz, pedindo à imprensa guineense e internacional para testemunhar esta nova imagem do país.

Por seu turno, o chefe do governo, Aristides Gomes, mostrou-se emocionado por ter conseguido levar a bom porto o processo de recenseamento eleitoral e, assim, concretizar este domingo a tão sonhada data para os guineenses irem as urnas eleger o novo parlamento. "Como devem calcular, foi com muita emoção que acabei de votar, porque como sabem este processo foi difícil e de tensão permanente entre as principais forças políticas que concorreram às legislativas" declarou chefe do governo de Bissau, acrescentando: "Foi necessário um apadrinhamento da comunidade internacional para podermos ultrapassar a situação de permanente tensão que vivíamos entre os principais atores políticos nacionais".

O líder do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Domingos Simões Pereira, espera que desta vez a democracia vença para que o império da lei se possa impor e reinar de uma vez por toda na Guiné-Bissau. "Acredito na vitória do meu partido para virarmos a página da história da Guiné-Bissau, deixar no passado as instabilidades políticas governativas e apresentar ao mundo uma nova imagem do país", sublinhou.

Quanto à apreensão, dia 9, de 800 quilos de droga, Domingos Simões Pereira asseverou: "É uma mistura da vergonha nacional e de raiva". Na sua visão é raiva porque há uma necessidade urgente de acabar com o fenómeno de as redes de tráfico de droga usarem a Guiné-Bissau como plataforma para atingirem outros mercados. A seu ver "99 por centos dos guineenses nunca viram droga, mas o nome da Guiné-Bissau está permanentemente associado a este fenómeno".

O presidente da Comissão Nacional das Eleições (CNE) disse estar satisfeito porque as urnas abriram em todo território nacional à hora prevista (07.00) e sem incidentes. A CNE estima que mais 70% dos 761.676 dos eleitores votaram nas legislativas.

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