Guerra na Terra Santa - A guerra e a paz
O que se está a passar em Gaza e o ataque do HAMAS a Israel não deixam ninguém indiferente. A violência das imagens de bebés mortos pelos terroristas nos Kibutz perto da fronteira com Gaza ou o sofrimento de milhares de pessoas encurraladas na sua própria terra, no sul de Gaza, e privadas de bens essenciais para a sua sobrevivência "partem-nos o coração", como disse Guterres, o Secretário-Geral das Nações Unidas. E estes são apenas alguns exemplos.
Israel prepara uma incursão terrestre na faixa de Gaza. O intrincado, e denso, tecido urbano dificulta as operações, e os mais de 500 km de tuneis subterrâneos cujo traçado só o HAMAS conhece, são uma verdadeira armadilha para as tropas de Israel. Os palestinos, que não rumaram a sul, sabem que vão servir como escudos humanos defendendo a sua terra. Mas a memória de 15 de maio de 1948, o Nakba Day, ainda está muito viva, o dia seguinte à declaração de Independência do Estado de Israel, quando tiveram de abandonar as suas casas. Espera-se uma enorme mortandade dos dois lados.
Na esperança de evitar mais uma grande tragédia, começaram as negociações para a libertação dos reféns israelitas, condição sine qua non para Israel deixar entrar os camiões com ajuda humanitária no sul de Gaza. Duas americanas foram libertadas e 20 camiões entraram no sábado pela fronteira de Raffa. Quem mediou as conversações foi o Qatar, país onde americanos e talibãs se juntaram para negociar a saída das tropas americanas do Afeganistão em agosto de 2021.
O protagonismo do Qatar era esperado, mas todos os países árabes deverão ter um papel importante na solução pacífica desta guerra que deverá incluir a Autoridade Nacional Palestiniana, em consonância com os Acordos de Oslo de 1993. A coexistência dos dois estados, Palestina e Israel, deverá ser a questão central da paz, juntamente com a negociação das fronteiras. Dificilmente se voltará ao que existia antes da Guerra do Seis Dias de 1967, mas os colonatos ilegais que Israel tem feito na Cisjordânia deverão ser repensados à luz do direito internacional.
Para lá chegar ainda teremos muita violência de parte a parte. O HAMAS conta com os seus aliados da Irmandade Muçulmana da fação violenta, grupos terroristas, como o Hezbollah sediado no Líbano ou a Al Qaeda, que se inspiraram em Sayed Qutub. Tem células e movimentos espalhados pelo mundo inteiro. Da Síria tem havido troca de artilharia com Israel. Desengane-se quem pensa que o presidente Assad está envolvido, porque ele próprio tem problemas com a Al Qaeda, que ainda controla algumas partes do seu país como Allepo onde têm saído os ataques contra Israel. O Hezbollah sediado no Líbano, também tem estado a fazer pressão sobre Israel para distrair do foco na faixa de Gaza. Os grupos terroristas, como as Brigadas Jenin ou as de Al-Aqsa, bem como o Al-Quds, o braço armado da Jihad Islâmica da Palestina, poderão ter-se já juntado aos militantes do HAMAS nos tuneis de Gaza, à espera do ataque de Israel.
Netanyahu não irá perdoar a humilhação que sofreu no dia 7 de outubro e quer erradicar o HAMAS como condição de paz, custe o que custar. O Ministro da Defesa, Yoav Gallant, apresentou o plano para o conseguir: 1.º -- Bombardeamento aéreo, naval e de artilharia na faixa de Gaza; 2.º -- Ofensiva terrestre-Guerrilha urbana; 3.º -- Criação de uma nova autoridade em Gaza.
António Guterres que esteve este sábado na Cimeira de Paz para Gaza, no Cairo, promovida pelo presidente Sisi, lembrou que "o ataque perpetrado (pelo HAMAS) contra civis israelitas não pode legitimar o massacre do povo palestino na Faixa de Gaza".
Infelizmente nesta guerra temos dois lados extraordinariamente violentos. Quem sofre são os civis, apanhados no fogo cruzado.
Professora do ISCTE-IUL