Guerra entre Díaz e Sánchez no debate das primárias socialistas
Os ataques entre Susana Díaz e Pedro Sánchez foram os protagonistas do debate de ontem entre os candidatos à liderança do PSOE, no qual participou também Patxi López. Era um "diálogo entre colegas dirigido" aos 187 mil militantes que no próximo domingo vão escolher o novo líder socialista. Mas não houve surpresas porque, tal como se esperava, faltou um discurso construtivo e as acusações entre os participantes deixaram ver a grave ferida interna do partido.
Viveram-se momentos muito duros, nomeadamente entre os dois favoritos à vitória: Díaz e Sánchez. "As pessoas que estiveram ao teu lado já não confiam em ti. Eu não sou o teu problema, Pedro, o teu problema és tu, porque todos te abandonaram", lançou a presidente andaluza ao ex-secretário-geral do partido. "Fazes o que é do teu interesse", acrescentou. E durante o debate atirou-lhe outras frases como "eu sou vencedora e tu és um fracasso" ou "não mintas, cariño". Outro dos momentos mais tensos foi por causa da Catalunha. "És a primeira pessoa que ouvi falar neste país de nação de nações culturais", ironizou Díaz, dirigindo-se ao principal adversário.
Sánchez lembrou em inúmeras ocasiões a abstenção do partido na eleição de Mariano Rajoy no Congresso dos Deputados, um comportamento que no seu entender causou "frustração" aos militantes. E no meio desta luta a dois surgiu Patxi López, ex-presidente do governo basco, a pedir o "voto útil", lamentando que hoje os socialistas estejam "divididos".
Durante uma hora e quarenta minutos os três candidatos tiveram a oportunidade de defender as suas ideias e propostas, que passaram despercebidas entre os ataques. Para Díaz, a raiz do problema socialista está em Sánchez, que não quis deixar a liderança depois de duas derrotas eleitorais frente a "um PP desacreditado e tóxico" que deixaram o PSOE só com 85 deputados no Congresso. A andaluza criticou também as mudanças de opinião do adversário, dizendo que estas acabaram por fazer do PSOE uma força política "irreconhecível". E aproveitou para fazer um anúncio. Caso ganhe, "se o PSOE não subir nas eleições, irei-me embora no dia a seguir, sem fazer barulho nem fraturar o partido".
A promessa do adversário, caso volte a ocupar a Secretaria-Geral, é pedir a demissão do primeiro-ministro. No seu discurso repetiu uma e outra vez o mal que a abstenção fez ao partido, deixando-o em "terra de ninguém". E afirmou que "muita gente considera que o PSOE já não é a força de esquerdas que era". Para Sánchez, não se pode ser "um partido de notáveis em que quatro decidem por todos".
E no meio desta disputa, Patxi López surgiu uma e outra vez como o candidato com o discurso mais coerente e a tentar olhar para o futuro. "Podemos passar o dia todo a debater o que fizemos bem e o que fizemos mal", afirmou o ex-lehendakari basco. Reconheceu que a abstenção foi um erro mas como homem de partido aceitou a decisão adotada. Definiu o PSOE como um partido dividido, sem referências e com uma grande distância entre os dirigentes e os militantes. Por isso aposta em trazer paz e unidade aos socialistas.
Sánchez também ofereceu unidade e pediu a López para se juntar à sua candidatura, apesar de já ter recebido um "não" durante a campanha. "Este é o teu projeto, é o nosso projeto", disse-lhe, mas teve uma resposta azeda. "Parece-me bem que se não tinhas ideias ficasses com as minhas", afirmou López. Díaz foi criticada por ambos por querer compatibilizar o cargo de presidente da Andaluzia com a liderança do PSOE. López lembrou que estar na Secretaria-Geral implica trabalhar 25 horas por dia.
Para López o partido "corre o risco de desaparecer" se Sánchez e Díaz mantiverem as suas posições. Mas Díaz lembrou que na Andaluzia encontrou um partido dividido e conseguiu a unidade com a participação de todos, como espera que aconteça a nível nacional. O seu compromisso é converter o PSOE na "esquerda útil de Espanha". Os candidatos acabaram o debate como começaram. Díaz pediu fraternidade, López o voto útil e a unidade e Sánchez disse que está em jogo curar ou manter o mal chamado abstenção.
Em Madrid